Governo Dutra
A pressão em torno da volta das instituições democráticas,
fez com que Vargas acenasse favoravelmente para realização de eleições diretas.
No final de 1945, uma nova assembléia constituinte foi eleita para, dessa
forma, definir as bases do jogo político nacional. De acordo com a nova
constituição, foi aprovada a existência das liberdades essenciais para o
desenvolvimento de um novo processo eleitoral.
No novo pleito presidencial surgiram três candidatos: o
general Eurico Gaspar Dutra (apoiado pelas alas trabalhistas do Partido Social
Democrático e Partido Trabalhista Brasileiro); o brigadeiro Eduardo Gomes
(candidato da União Democrática Nacional); e o civil Yedo Fiúza (filiado ao
Partido Comunista Brasileiro). Contando com o decisivo apoio do presidente
Vargas, Dutra conseguiu a vitória com mais da metade dos votos.
Estabelecendo-se em um cenário político internacional que
marchava rumo ao bipolarismo político, Dutra optou por seguir a cartilha
político-ideológica dos Estados Unidos.
Reafirmando essa posição, seu governo colocou os comunistas na ilegalidade e cassou o mandato político de todos os parlamentares do PCB como o do renomado escritor Jorge Amado. Complementando esse conjunto de medidas pró-Estados Unidos, o governo rompeu relações diplomáticas com a União Soviética.
Reafirmando essa posição, seu governo colocou os comunistas na ilegalidade e cassou o mandato político de todos os parlamentares do PCB como o do renomado escritor Jorge Amado. Complementando esse conjunto de medidas pró-Estados Unidos, o governo rompeu relações diplomáticas com a União Soviética.
A política econômica de Dutra foi marcada pela predominância
de políticas liberais. Nessa época, o volume de importações brasileiras
aumentou significativamente. Em pouco tempo as reservas econômicas do país
diminuíram por causa do grande número de recursos utilizados para financiar a
entrada de produtos importados. Consequentemente, a indústria nacional sofreu
um período de recessão, que foi acompanhado pelo crescimento da dívida externa.
No Governo Dutra abriu-se as portas" do Brasil para produtos importados |
Nesse período, a condição dos trabalhadores piorou
sensivelmente. O congelamento dos salários, inalterados desde 1942, e o aumento
dos índices inflacionários encareceram o custo de vida da população. Por
conseguinte, vários movimentos grevistas e manifestações foram deflagrados
neste tempo. Um dos mais violentos protestos ocorreu com o aumento da tarifa
dos ônibus e bondes na cidade de São Paulo, em 1947. Os protestos causaram a
depredação de prédios públicos e confronto entre os rebelados e a polícia. O governo
culpou diversas vezes os comunistas pela autoria desses episódios.
A partir de 1947, algumas poucas medidas foram tomadas para
se refrear a crise da economia. O governo estabeleceu medidas de controle sobre
o câmbio e o volume de importações. Certo tempo depois, a economia nacional
apresentava números positivos. Em 1949, aproveitando o surto de valorização do
café, o país fechou o ano com uma balança comercial favorável. O ponto alto do
governo deu-se com a criação do Plano Salte (sigla para Saúde, Alimentação,
Transporte e Energia). Com os problemas acumulados ao longo de sua
administração, as metas desse plano não foram atingidas de maneira expressiva.
Segundo Governo Vargas
Em 1950, uma nova eleição começou a ganhar o cenário
político nacional. Ainda sentindo a carência de personalidades políticas de
âmbito nacional, a disputa daquele ano contou com poucos presidenciáveis.
Apoiado por Dutra, o mineiro Cristiano Machado ergueu chapa com o PSD. Pela
UDN, Eduardo Gomes disputava mais uma eleição. Enquanto isso, Getúlio Vargas
articulou sua volta à presidência pelo PTB.
Coordenando amplo apoio político com o oferecimento de
cargos, Getúlio Vargas conseguiu uma vitória que o levou de volta à presidência
“nos braços do povo”. Uma das principais figuras a apoiá-lo na época foi o
governador paulista Ademar de Barros, conhecido pelo slogan “rouba, mas faz”.
Em uma época marcada por personalidades políticas populistas, Vargas garantiu
sua vitória para o seu último mandato como presidente do Brasil.
Em 1951, Getúlio Vargas retornou ao posto de Presidente da
República. Para voltar ao poder, o político gaúcho optou por deixar sua imagem
política afastada dos palcos do poder. Entre 1945 e 1947, ele assumiu, de forma
pouco atuante, o cargo de senador federal. Nas eleições de 1950, ele retornou
ao cenário político utilizando de alguns dos velhos bordões e estratagemas que
elogiavam o seu antigo governo.
Querendo buscar amplas alianças políticas, Getúlio abraçou
setores com diferentes aspirações políticas. Em um período de Guerra Fria, onde
a polarização ideológica era pauta do dia, Vargas se aliou tanto aos defensores
do nacionalismo quanto do liberalismo. Dessa maneira, ele parecia querer
repetir o anterior “Estado de Compromisso” que marcou seus primeiros anos
frente à presidência do Brasil.
Por um lado, os liberalistas, representados pelo
empresariado nacional, e militares, defendiam a abertura da economia nacional
ao capital estrangeiro e adoção de medidas monetaristas que controlariam as
atividades econômicas e os índices inflacionários. Por outro, os nacionalistas,
que contavam com trabalhadores e representantes de esquerda, eram favoráveis a
um projeto de desenvolvimento que contava com a participação maciça do Estado
na economia e a rejeição ao capital estrangeiro.
Dada essa explanação, perceberemos que liberalistas e
nacionalistas tinham opiniões diferentes sobre o destino do país e, até mesmo,
antagonizavam em alguns temas e questões. Dessa forma, Vargas teria a difícil missão
de conseguir se equilibrar entre esses dois grupos de orientação política
dentro do país. Mais uma vez, sua função mediadora entre diferentes setores
político-sociais seria colocada à prova.
As ações polêmicas do governo
Entre as principais medidas por ele tomadas, podemos
destacar a criação de duas grandes estatais do setor energético: a Petrobrás,
que viria a controlar toda atividade de prospecção e refino de petróleo no
país; e a Eletrobrás, empresa responsável pela geração e distribuição de energia
elétrica. Além disso, Vargas convocou João Goulart para assumir o Ministério do
Trabalho. Em um período de intensa atividade grevista, João Goulart defendeu um
reajuste salarial de 100%.
Todas essas medidas tinham forte tendência nacionalista e foram
recebidas com tamanho desagrado pelas elites e setores do oficialato nacional.
Entre os principais críticos do governo, estava Carlos Lacerda, membro da UDN,
que por meio dos órgãos de imprensa acusava o governo de promover a
“esquerdização” do Brasil e praticar corrupção política. Essa rixa entre Vargas
e Lacerda, ganhou as páginas dos jornais quando, em agosto de 1954, Carlos
Lacerda escapou de um atentado promovido por Gregório Fortunato, guarda pessoal
do presidente.
O suicídio de Vargas
A polêmica sob o envolvimento de Vargas no episódio serviu
de justificativa para que as forças oposicionistas exigissem a renúncia do
presidente. Mediante a pressão política estabelecida contra si, Vargas escolheu
outra solução. Na manhã de 24 de agosto de 1954, Vargas atentou contra a
própria vida disparando um tiro contra o coração. Na carta-testamento por ele
escrita, Getúlio denunciou sua derrota perante “grupos nacionais e
internacionais” que desprezavam a sua luta pelo “povo e, principalmente, os
humildes”.
Depois dessa atitude trágica, a população entrou em grande
comoção. Vargas passou a ser celebrado como um herói nacional que teve sua vida
ceifada por forças superiores à sua luta popular. Com isso, todo grupo
político, jornal e instituição que se pôs contra Getúlio Vargas, sofreu intenso
repúdio das massas. Tal reação veio a impedir a consolidação de um possível
golpe de estado. Dessa forma, o vice-presidente Café Filho assumiu a vaga
presidencial.
Governo Juscelino Kubitschek
Quando Juscelino
Kubitschek e João Goulart venceram as eleições presidenciais de outubro de 1955
- respectivamente para presidente e vice-presidente -, houve uma divisão das
Forças Armadas, pois a chapa vitoriosa era constituída por dois candidatos
getulistas, o mineiro Juscelino Kubitschek e o gaúcho João Goulart.
Em 11 de novembro
o então general Lott desencadeou o movimento militar, dito de "retorno ao
quadro constitucional vigente". Houve então a declaração do impedimento do
presidente em exercício, Carlos Luz (Café Filho havia sofrido um infarto e
afastara-se da presidência), a entrega de seu cargo ao presidente do senado
Nereu Ramos e a garantia da posse dos eleitos, em obediência à Constituição.
Juscelino Kubitschek após
a situação política ter tomado seus caminhos (tentativa de golpe da UDN (União
Democrática Nacional) e dos militares), rapidamente JK colocou em ação o Plano
de Metas e a construção de Brasília, transferindo a capital do Brasil da cidade
do Rio de Janeiro para o Planalto Central. Sendo assim, abordaremos os
principais feitos realizados por JK durante o seu governo como presidente (1955-1960).
O Plano ou Programa de Metas (31 metas) tinha como principal
objetivo o desenvolvimento econômico do Brasil, ou seja, pautava-se em um
conjunto de medidas que atingiria o desenvolvimento econômico de vários
setores, priorizando a dinamização do processo de industrialização do Brasil.
O desenvolvimentismo econômico que o Brasil viveu durante o
mandato de JK priorizou o investimento nos setores de transportes e energia, na
indústria de base (bens de consumos duráveis e não duráveis), na substituição de
importações, destacando a ascensão da indústria automobilística, e na Educação.
Para JK e seu governo, o Brasil iria diminuir a desigualdade social gerando
riquezas e desenvolvendo a industrialização e consequentemente fortalecendo a
economia. Sendo assim, estava lançado seu Plano de Metas: “o Brasil iria
desenvolver 50 anos em 5”.
Para ampliar o desenvolvimentismo econômico brasileiro, JK
considerava impossível o progresso da economia sem a participação do capital
estrangeiro. Para alcançar os objetivos do Plano de Metas era necessária uma
intervenção maior do Estado na economia, priorizando, então, a entrada de
capitais estrangeiros no país, principalmente pela indústria automobilística.
Ressalta-se que nesse período o Brasil iniciou o processo de endividamento
externo.
Os setores de energia e transporte foram considerados
fundamentais para o desenvolvimentismo econômico, ressalta-se a importância do
governo Vargas neste processo, com a criação da Companhia Siderúrgica Nacional
em Volta Redonda-RJ no ano de 1946 e da Petrobras no ano de 1953. Outros
setores que ganharam relevância foram o agropecuário; JK procurou aumentar a
produção de alimentos e o setor energético, construindo as usinas Hidrelétricas
de Paulo Afonso no rio São Francisco e as barragens de Furnas e Três Marias.
Contudo, tais mudanças empreendidas por JK ocasionou a
acentuação da industrialização do país com um aumento do Produto Interno Bruto
(PIB) anual em 7%, mas não superando a inflação da dívida externa. A
industrialização do país se efetivou basicamente na região sudeste, destacando
neste momento a grande migração nordestina para esta região.
Após analisarmos alguns pontos do Plano de Metas, focaremos
a outra promessa de campanha efetivada por JK: a construção de Brasília e a
transferência da capital federal. Em fins de 1956, depois de o Congresso
Nacional ter aprovado a transferência da capital, iniciaram-se as obras da
construção de Brasília. A nova capital do Brasil teria um moderno e arrojado
conjunto arquitetônico realizado pelo arquiteto Oscar Niemeyer. O Plano Piloto
da cidade foi desenvolvido pelo urbanista Lúcio Costa.
Juscelino Kubitschek não foi o primeiro a falar sobre a
possiblidade da transferência da capital do Brasil, desde 1891 a Constituição
Federal, no seu artigo 3º, já almejava a transferência. Na última década do
século XIX, mas precisamente no ano de 1894, foi nomeada uma comissão que
visitou e demarcou a área do futuro Distrito Federal no Planalto Central. Essa
comissão ficou conhecida como Missão Cruls em referência ao astrônomo belga
Luiz Cruls que a chefiava.
A interiorização da capital federal já era um sonho de
muitos brasileiros anteriores a JK, mas foi Juscelino que efetivou a
transferência da capital. Acostumado a lidar com projetos arrojados, JK deu a ordem
para o início da construção de Brasília, os trabalhos tiveram início no final
de 1956. A nova capital foi inaugurada no ano de 1960.
A construção da nova capital se configurou como uma grande
meta a ser cumprida. Brasília somente pôde ser efetivada a partir da grande
vontade de JK, e também pelo empenho dos trabalhadores que a construíram,
grande parte se constituía de migrantes da região nordeste do Brasil. Os
trabalhadores que a construíram tornaram seus primeiros moradores, ficando
conhecidos como “Candangos”.
Com Juscelino Kubitschek, o interior do Brasil passou a ser
visto como espaço de possibilidades, como parte integrante da civilização
brasileira.
Governo Jânio Quadros
Jânio da Silva Quadros sucedeu ao Presidente Juscelino
Kubitschek. Foi eleito em outubro de 1960 com uma expressiva vitória. Mas seu
governo durou poucos meses, provocando uma crise política, que culminaria mais
tarde no Golpe Militar.
Nesta eleição, em 1960, os principais nomes para a disputa
foram: Marechal Teixeira Lott pelo PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), tendo
como vice João Goulart; Ademar de Barros, político forte em São Paulo e um
candidato populista inovador, Jânio Quadros.
Jânio obteve o apoio da UDN (União Democrática
Nacional) e alcançou êxito com um
discurso de moralização. Ao final do governo de JK, o país enfrentava sérios
problemas advindos da chamada política desenvolvimentista. A inflação atingia
25% ao ano e a dívida externa era exorbitante.
Com o slogan “varre, varre, vassourinha, varre, varre a bandalheira”, Jânio empolgou a
população, prometendo acabar com a corrupção, equilibrar as finanças públicas e
diminuir a inflação. Para ganhar ainda mais simpatia dos eleitores, o candidato
costumava andar com roupas amassadas e carregar sanduíche de mortadela nos bolsos.
Jânio Quadros venceu com mais de 6 milhões de votos.
Entretanto, o vice-presidente eleito foi João Goulart. A Constituição de
1946 previa a votação para Presidente e
vice, separadamente. Vale lembrar, que os dois candidatos representavam
partidos e ideias diferentes.
Jânio foi o primeiro Presidente da República a tomar posse
na nova capital do país, Brasília, e de lá governaria o país. Era a primeira
vez, também, que um candidato apoiado pela UDN alcançava o cargo.
Seu governo foi muito contraditório. A começar pelos seus
apoios políticos, que representavam a elite do país, ou seja, aquela classe
social que sempre foi alvo das críticas de Jânio. Na política internacional,
dizia combater o comunismo, mas chegou a condecorar um dos líderes da Revolução
Socialista Cubana, Ernesto “Che” Guevara, com a Medalha Cruzeiro do Sul, em
agosto de 1961.
Na área econômica, Jânio foi conservador, adotando à risca
as medidas do FMI (Fundo Monetário Internacional). Congelou salários,
restringiu créditos e desvalorizou a moeda nacional, o Cruzeiro, em 100%.
Porém, nenhuma destas medidas foi suficiente para acabar com a inflação alta.
O que ocorreu foi um descontentamento da população, iludida
com os discursos inflamados do candidato e, posteriormente, decepcionada com o
novo Presidente, que chegou a proibir o uso de biquínis nas praias, , a
realização de rinhas de galo, limitou as corridas de cavalo para os fins de
semana e proibiu o uso de lança-perfume. Os apoios políticos a Jânio também se
desfizeram, inclusive da UDN e de seu maior representante, o jornalista Carlos
Lacerda.
No dia 24 de agosto de 1961, Carlos Lacerda foi à televisão
denunciar um possível golpe que estaria sendo articulado pelo Presidente Jânio
Quadros. No outro dia, o Brasil se surpreendeu com o pedido de renúncia de
Jânio. Ele afirmava em carta ao Congresso que “forças terríveis” o haviam
levado a tomar aquele gesto.
Porém, acredita-se que Jânio imaginou um “espetáculo de
renúncia”, o qual mobilizaria a população em seu favor e ele voltaria ao poder
muito mais fortalecido. Mas isto não aconteceu. O Congresso de pronto aceitou
sua saída do cargo. Assumiu interinamente a direção do país o Presidente da
Câmara, Ranieri Mazilli, até a volta do vice João Goulart, que fazia uma visita
oficial à China.
Governo João Goulart
O governo de João Goulart foi um dos mais atribulados da
história da República Brasileira, pois foi marcado por conspirações militares,
desajuste econômico com altíssima inflação, tentativa de aplicação de reformas
de base, aproximação com as esquerdas que almejavam a via revolucionária, entre
outros acontecimentos. João Goulart esteve no poder de setembro de 1961 a abril
de 1964, mês em que foi efetivamente afastado do poder por uma articulação
civil-militar. Esse evento foi denominado por alguns como “Golpe de 1964” e por
outros como “Revolução de 1964”.
De agosto para setembro de 1961, ocorreu a renúncia do
presidente Jânio Quadros, que protagonizara um governo permeado de
excentricidades. O vice-presidente eleito, João Goulart, deveria, de pronto,
assumir a presidência do país. Entretanto, Goulart (também conhecido pelo
apelido Jango) encontrava-se, nessa ocasião, na República Popular da China, que
então já era uma ditadura de viés comunista. Representantes de setores civis e
militares do Brasil acreditavam que a volta de Goulart para assumir o poder
resultaria na brecha para que houvesse uma revolução comunista em solo
brasileiro.
Antes de Goulart conseguir voltar ao Brasil, a chefia do
país foi confiada a Ranieri Mazzilli, então presidente da Câmara dos Deputados.
Nessa ocasião, houve a chamada “Batalha da Legalidade”, isto é, enquanto alguns
ministros militares, contrários à posse de Jango, queriam vetar sua volta ao
Brasil, outros militares, como o general Machado Lopes, queriam garantir a
posse. Leonel Brizola (à época governador do Rio Grande do Sul e cunhado do
presidente) articulou-se com militares que também queriam a posse de Jango,
criando um esquema de proteção em torno da figura do presidente. A solução para
esse impasse foi dada pelo Congresso Nacional, ao transformar o regime
presidencialista em parlamentarista.
Com o regime parlamentarista, Goulart ficou com força
política restrita, mas acabou sendo empossado presidente em 07 de setembro de
1961. O ano seguinte, 1962, foi marcado pela realização das eleições para os
Estados e para o Congresso e, junto a elas, a acentuação das divergências politicas,
que se concentravam tanto nos principais partidos, PSD, PTB e UDN, quanto em
outras organizações, como a Escola Superior de Guerra (ESG) e a UNE (União
Nacional dos Estudantes). Em 1963, ocorreu a volta ao regime presidencialista
por meio de um plebiscito que indagava os cidadãos a respeito do “sim” ou do
“não” ao regime em voga. Cerca de 9,5 milhões, de quase 12,5 milhões de pessoas
que voltaram, disseram não, e Goulart voltou a ter o poder centralizado no
Executivo.
O governo de Goulart procurou compor um quadro
administrativo com nomes como San Tiago Dantas, Celso Furtado, Almino Afonso e
Amauri Kruel. Com essa organização, o governo procurou promover um plano
trienal para combater a inflação e acelerar o crescimento econômico.
Entretanto, o governo enfrentava também outros problemas, como as ondas de
greves e as insubordinações militares. Além disso, houve a tentativa de
promoção das Reformas de Base, como a Reforma Agrária, tentativa essa que
atraiu a atenção das camadas revolucionárias da esquerda, que viam nas reformas
a possibilidade de radicalização. Atraiu também a atenção de militares e civis
conservadores que se colocavam veementemente contra.
O programa de implementação dessas reformas gerou uma grande
tensão sobre o fato de Goulart ajustar-se ao esquema comunista ou não. Mesmo
que não estivesse envolvido com o programa revolucionário comunista, estaria o
presidente atraindo para si poderes fora da normalidade e da legalidade, isto
é, tornando-se uma espécie de “caudilho populista”?
Alguns autores rejeitam a hipótese de que pudesse haver uma
revolução comunista no Brasil durante o governo de Jango. Outros,
contrariamente, sustentam que essa realidade era bem possível. A despeito das
discussões acaloradas a esse respeito, é fato que Goulart, a um só tempo,
tentou ajustar-se ao reformismo populista/trabalhista ao associar-se às
posições de Leonel Brizola e houve amplo espaço às aspirações da esquerda, que
se constituía em blocos complexos (e quase sempre heterogêneos), indo desde os
comunistas ortodoxos, ligados ao PCB, à URSS e à Cuba, passando por militares
que se insurgiam contra a hierarquia das Forças Armadas e chegando até as ligas
de camponeses que almejavam a distribuição de terras via revolução armada, com
expropriação de latifúndios, etc.
O mês de março de 1964 foi crucial. No dia 13, Goulart proferiu
o famoso discurso na Central do Brasil, comprometendo-se, diante de uma
população de 150 mil pessoas, a cumprir o programa de reformas proposto. No dia
19, houve a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que reivindicava uma
reação militar contra uma iminente revolução comunista no Brasil. Essas
posições intensificaram-se nos dias seguintes, inclusive dentro das próprias
Forças Armadas. Havia os setores do exército que estavam dispostos a defender o
governo e aqueles que pretendiam alijar Goulart do cargo de presidente.
Goulart, percebendo uma iminente situação de “queda de
braço” dentro das Forças Armadas, tentou aliar-se a sargentos para que pudessem
sustentá-lo no poder, passando assim por cima da autoridade dos oficiais. O
general Olímpio Mourão Filho, em 31 de março, pôs-se em marcha com suas tropas,
de Juiz de Fora, Minas Gerais, em direção ao Estado da Guanabara, no Rio de
Janeiro, onde o presidente se encontrava. A tensão era enorme e a possibilidade
de uma guerra civil também. Goulart, que antes contava com o apoio de uma parte
significativa do exército, acabou percebendo que não havia mais como permanecer
no poder Jango partiu do Rio de Janeiro para Brasília e de Brasília para o Rio
Grande do Sul, de onde, enfim, rumaria para o Uruguai, como exilado político.
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