sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Cultura grega


A religião grega não tinha dogmas, isto é, os fiéis não se obrigavam a crer em verdades definitivas; era politeísta: havia grandes deuses, que habitavam o Olimpo, mais de 30 mil seres imortais sobre a terra e os heróis, homens que praticaram ações extraordinárias e se igualavam aos deuses. Cada cidade tinha sua divindade protetora, como Palas Atenas, em Atenas. No culto aos deuses, os gregos pediam proteção para a família, tribo ou cidade, não a salvação da alma. Cada um podia imaginar a vida depois da morte como bem entendesse. As lendas que contam as aventuras dos deuses e heróis são chamadas mitos; o conjunto dos mitos forma a mitologia. Deuses e crenças de várias origens se misturaram por séculos. Os primeiros invasores arianos, os aqueus, trouxeram Zeus; e encontraram a grande mãe cretense. Os colonos da Ásia assimilaram deuses locais, como Dionísio. Outra característica de religião grega era o antropomorfismo, isto é, os deuses tinham formas, virtudes e defeitos humanos.

O mito das origens dos deuses e homens

O céu, Urano, e a Terra, Gaia, surgiram do nada. De sua união nasceram os Titãs, os Cíclopes e os Gigantes. O Titã mais jovem, Cronos, destituiu o pai e, para que não fosse ele próprio destituído, passou a devorar os filhos, os deuses. Sua esposa, Rea, para salvar Zeus, o caçula, substituiu-o por uma pedra e escondeu-o numa caverna. Quando cresceu, Zeus obrigou o pai a devolver os filhos comidos. Com ajuda deles, encarcerou Cronos no inferno. A seguir, guerreou contra os Gigantes: a gigantomaquia. Prometeu, filho de um Titã, criou os homens e deu-lhes o fogo, que roubou de Zeus. Zeus o acorrentou no alto do Cáucaso, onde um abutre lhe devorara todos os dias o fígado, que renascia de noite. Hércules libertou-o do suplício, matando o abutre .    A primeira mulher, Pandora, não resistiu à curiosidade e abriu a caixa de todos os males. Para castigar os homens, Zeus mandou o dilúvio. Deucalião, filho de Prometeu, e sua mulher Pirra salvaram-se e recriaram a humanidade. Desse modo, deuses e homens eram, em essência, muito semelhantes.

A mitologia dos deuses heróis

Os grandes deuses habitavam o Monte Olimpo, exeto Poseidon (deus dos mares) e Hades (dos infernos). No Olimpo eles se alimentavam de uma planta de sabor delicado, a ambrosia, manjar dos deuses. Os mais antigos eram filhos de Cronos; além de Hades e Poseidon, Héstia (deusa do lar); Hera (mulher de Zeus); Deméter (deusa da Terra); e Zeus (senhor dos deuses e defensor da justiça). Os mais novos eram filhos de Zeus: Ares (deus da guerra); Afrodite (deusa do amor); Apolo (adivinhação, luz, artes); Artemis (a Lua); Hefaístos (fogo); Atena (razão e paz); Hermes (comunicações). Dionísio (protetor da vindima) foi o último a entrar no Olimpo. Os heróis mais conhecidos eram: Perseu - matou Górgone, monstro de dentes afiados e cabeça cheia de serpentes; Jasão - com seus companheiros argonautas conquistou o Tosão de Ouro, pele de carneiro voadora, guardada por um dragão; Teseu - matou o Minotauro, mostro que habitava o labirinto de Creta. Édipo matou a esfinge, devoradora de viajantes que não respondessem a suas enigmáticas perguntas; e Hercules - o maior de todos os heróis, realizou doze trabalhos para escapar à fúria de Hera (mulher de Zeus).



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O culto, os santuários e os grandes jogos

O culto se realizava no jazigo da família, no túmulo dos heróis ou no templo. Consistia em orações, sacrifícios e libações, isto é, derramamento de óleo, azeite, leite, vinho, como oferenda à divindade. O pai exercia funções de sacerdote e mantinha sempre aceso o fogo sagrado. Toda a família participava das cerimônias que acompanhavam nascimento, casamento e funerais. Anualmente, em todas as cidades, havia homenagem aos mortos. Todas tinham sua grande festa religiosa. Em Atenas celebrava-se Dionísio, apreciado por camponeses. Já as Grandes Dionisíacas eram celebrações urbanas, com concursos de autores dramáticos, que deram origem às grandes obras do teatro grego. As Grandes Panatenéias, em honra de Atena, celebravam-se de 4 em 4 anos, com concursos de música e canto, corridas de cavalo e outras competições; fechavam com uma procissão que oferecia à deusa um santo luxuoso.

Era a festa mais importante de Atenas. Havia uma certa unidade religiosa. Multidões de toda a Grécia peregrinavam até os santuários mais famosos como Epidauro, Delos, Olímpia e Delfos. Para saber o futuro, os gregos consultavam os deuses nos oráculos (oráculo significa a respostá à consulta, o deus que respondia ou o local onde ele atendia). Em Delfos, Apolo falava pela boca da Pitonisa, sacerdotisa que entrava em transe depois de aspirar odores emanados das rochas. Peregrinos vinham até o Egito ouvir suas palavras sem nexo, que os sacerdotes interpretavam. Os grandes jogos homenageavam os deuses dos santuários. Havia quatro jogos pan-helênicos, ou seja, abrangiam todo o mundo helênico: istmicos, neméios, píticos e olímpicos. Os mais famosos eram os Jogos Olímpicos, realizados em Olímpia, em homenagem a Zeus. Depois de 776 a.C passaram a realizar-se de quatro em quatro anos. Durante os jogos, era sacrilégio atacar os peregrinos; os atletas juravam lealdade e disputavam seis provas: corrida, luta livre, pugilismo, corrida de carros, lançamento de dardo e de disco. Os vencedores recebiam uma coroa de louros e eram cantados pelos poetas, como Simônides e Píndaro.

Mistérios, trajédias e comédias

A preocupação com a vida após a morte explica a difusão do orfismo e dos mistérios. Orfismo vem de Orfeu, poeta que atraia até animais selvagens, segundo a lenda. Ele ensinava que a alma, liberta do corpo com a morte, atingiria a suprema felicidade depois de purificar-se através de reencarnações sucessivas. Os mistérios eram cerimônias que permitiam entrar em contato com a divindade e conseguir a felicidade eterna. Todos deviam guardar segredo sobre a iniciação recebida. Deméter e sua filha Coré (ou Perséfone) eram grandes divindades dos mistérios. Culturalmente, nenhuma cidade grega superou Atenas. Lá viveram alguns dos maiores pensadores e artistas que a humanidade conheceu. Uma atividade importante era o teatro. No concurso que se realizava durante o culto a Dionísio, cada participante inscrevia três peças (trilogia). Elas eram encenadas por atores masculinos, que usavam máscaras e também representavam personagens femininos. Dentre os grandes poetas trágicos destacam-se: Ésquilo (525-465 a.C) - Exaltou Atenas e os deuses justiceiros.

Deixou Os Persas (onde canta o orgulho insensato e a punição de Xerxes); Os Sete Contra Tebas (narra o destino infeliz de Édipo); e Oréstia (narra a sorte da família Agamenon). Sófocles (496-405 a.C) - Suas obras mostram os heróis lutando contra armadilhas do destino. Em Antígona, a heroína põe o irmão numa sepultura proibida pelas leis urbanas; Édipo Rei mostra os velhos heróis encontrando a paz e a morte num bosque sagrado. Eurípedes (485-406 a.C) - Menos religioso que os anteriores, crítico e pessimista. Em Alceste e Medéia, mostra sua preocupação com os problemas do homem, suas grandezas, mistérios e paixões. Os atenienses também apreciavam as comédias, ricas em sátiras e alusões aos problemas do momento. O grande autor do gênero foi Aristófanes, amigo da vida simples e defensor da tradição. Em A Paz, atacou os partidários da guerra; em As Vespas, os erros dos juízes; em Os Novos, as inovações bruscas.

Filósofos, poetas e historiadores

A filosofia grega divide-se em antes e depois de Sócrates. Foram pré-socráticos Tales de Mileto (fim do século VII-início do VI a.C); Pitágoras (582-497 a.C); Demócrito (460-370 a.C); Heráclito (535-475 a.C); e Parmênides (540 a.C). No tempo de Sócrates predominava a escola dos sofistas, que serviam da reflexão para atingir fins imediatos, ainda que por falsos argumentos. O maior dos sofistas foi Protágoras. Sócrates (470-399 a.C) - Fundou a Filosofia Humanista. Criou a maiêutica (“parto das idéias”), método de reflexão que consistia em multiplicar as perguntas para obter, a partir da indução de casos particulares, um conceito geral do objeto. Para Sócrates a virtude era uma ciência que se podia aprender.

Uma voz anterior, daimon, indicaria o caminho do bem. Irônico, hábil em confundir o interlocutor, cercado de discípulos extravagantes, como Alcebíades, atraiu muitos inimigos. Acusado de renegar os deuses e corromper a juventude, Sócrates foi condenado a beber cicuta, o que fez com bravura e serenidade. Platão (427-347 a.C) - Principal discípulo de Sócrates, fundou a Academia de Atenas. Segundo sua teoria, baseada nas idéias (formas essenciais), o mundo real transcende o mundo das aparências, o qual nada mais é do que uma derivação das idéias matrizes. Em suas obras políticas, destaca como virtudes essenciais a bravura, a serenidade e a justiça. Obras importantes: Apologia de Sócrates, Críton, O Banquete, Fédon, Fedro e A República. Aristóteles (384-322 a.C) - Considerado por muitos como o maior filósofo de todos os tempos. Abarcou todos os conhecimentos de seu tempo - Lógica, Física, Metafísica, Moral, Política, Retórica e Poética. Sua obra foi editada pela primeira vez no século I a.C por Nadrônico de Rodes. Partindo de Sócrates e Platão, Aristóteles sistematizou os princípios da Lógica, formando uma ciência que ele chamou de Analítica. Sua metafísica estuda o “ser enquanto ser” e investiga os “primeiros princípios” e as causas “primeiras do ser”.

Em sua Teologia, Aristóteles procura demonstrar racionalmente a existência de Deus, o “primeiro motor imóvel”, o “não vir a ser”, o “ato puro”. Na poesia, destacou-se Píndaro (518-448 a.C), que, em odes triunfais, exaltava os vencedores dos jogos pan-helênicos. Na história, são figuras importantes: Heródoto de Halicarnasso (484-425 a.C) - O pai da História, como o chamou o orador romano Cícero, relatou as guerras pérsicas. Tinha concepção religiosa, pois em seu tempo os fatos eram vistos como resultado da vontade dos deuses. Mas se preocupava em conhecer os povos cujas histórias contava: visitou. Tucídides (460-396 a.C) - Escreveu a História da Guerra do Peloponeso. Considerava que causas políticas determinavam os fatos históricos. Por isso, é tido como o criador da História Objetiva, que ele apresentava como modelo para a vida prática. deixou obra rica em reflexões. Xenofonte (430-354 a.C) - Escreveu Anabase, sobre a campanha de Ciro, o Jovem, e a retirada de 10 mil mercenários que o haviam seguido à Pérsia numa aventura política.

Arte, harmonia e simplicidade

A arte grega era religiosa. Os principais monumentos eram templos, e as esculturas, em sua maioria, representavam deuses. Suas marcas eram a harmonia, a simplicidade, o equilíbrio e uma decoração perfeitamente adequada ao conjunto. os trabalhos produzidos em ateliês, tinham caráter coletivo. O século de Péricles (V a.C) assinala o apogeu, com os monumentos da Acrópole e as obras-primas de Fídias; com a cerâmica e seus vasos, cobertos de cenas expressivas; com o domínio da técnica de esculpir e de executar a planta dos templos.

Os gregos construíram os templos com blocos de pedra talhada, de tal modo ajustados que dispensavam argamassa. Tinham três partes: vestíbulo (sala do deus nau) e tesouro. As colunas se apresentavam em estilo dórico, o mais simples; jônico, mais gracioso; e o coríntio, com capitel (parte superior) ornamentado em forma de folhas. Os gregos se esmeraram na Acrópole, um de seus monumentos mais belos. Péricles e Fídias reconstruíram os templos, que os persas haviam arrasado. No Partenon, Fídias esculpiu em márfim e ouro a Atena Promachos (combatente) e pôs no escudo duas figuras humanas: ele próprio e seu amigo Péricles. Foi processado por impiedade. Fídias ainda construiu Erectéion, templo que guardava antiga estátua de madeira de Atena, com pórtico das Cariátides, estátuas de mulheres, sustentando o teto.

Outro escultor do século V a.C foi Miron, autor do Discóbolo (lançador de disco), mestre do movimento. Também se destacaram: Policleto de Argos, que procurou dar as proporções ideais do corpo humano ao seu Doríforo (portador de lanças); e Praxíteles, escultor da estátua de Hermes. A partir do século III a.C, todo o Planalto Persa constituiu o Reino dos Partas; e aos selêucidas restaram apenas a Síria e a Mesopotâmia. Entre 197 a.C e 31 a.C, os reinos helenísticos foram conquistados pelos romanos, verdadeiros herdeiros do Império de Alexandre Magno.

A civilização Helenística

A civilização helenística resultou da fusão da cultura helênica (grega) com a cultura do Oriente Médio, principalmente persa e egípcia. Seu centro deslocou-se da Grécia e do Egeu para o Oriente Médio, para os novos pólos irradiadores de cultura: Alexandria, Antioquia, Pérgamo. Na Grécia, Esparta agonizava e Atenas decaía. Alexandria ganhava fama no Ocidente e no Oriente, com a população numerosa, indústria artesanal, museus, a biblioteca com 400 mil obras.

A vida intelectual era intensa: Matemática, Geometria e Medicina se desenvolveram. O pensamento filosófico dividia-se em duas correntes: estoicismo, que acentuava a firmeza de espírito, indiferença à dor e submissão à ordem natural das coisas; e epicurismo, que aconselhava a busca do prazer. Na literatura, destacou-se o cantor da natureza e da simplicidade da vida no campo, o poeta Teócrito. A arquitetura projetou templos grandiosos. Surgiram novos deuses, não-gregos, como Ísis e Serápis; e ganharam força os mais jovens, como Afrodite, Apolo e o pequeno Eros, deus do amor (cupido). Os artistas retratavam a natureza viva, o movimento dos corpos, a transparência das vestes.

O legado cultural da Grécia

A contribuição dos gregos para a humanidade abrange todos os setores da vida humana. Eles fundaram a filosofia. As reflexões de Sócrates sobre a natureza e o homem e os sistemas criados por Platão e Aristóteles tornaram imortal o pensamento grego. Seu teatro chega até nós cheio de vida. Demóstenes, mestre da oratória. O esplendor da arte grega ainda pode ser admirado nas ruínas do Partenon e na Acrópole de Atenas. Na ciência, a matemática de Euclides e os teoremas de Tales ou Arquimedes se incorporaram ao patrimônio cultural da humanidade. Hipócrates, o mais ilustre médico da Antiguidade, impulsionou o conhecimento do corpo humano. O regime democrático de Atenas serviu de exemplo para todos os povos. Os gregos alimentaram também o ideal cívico, o amor à pátria, ao regime político e à família; nos deixaram ainda o ideal 

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Grécia Antiga


Os cretenses: início da civilização Grega

Creta desenvolveu-se, entre aproximadamente 2000 e 1400 a.C, uma das mais brilhantes civilizações da Antiguidade: a civilização cretense. Essa civilização tinha conhecimento da escrita, desenvolveu uma rica produção artesanal e um imenso comércio marítimo. A expansão marítima e o consequente contato com várias civilizações desenvolvidas da época levaram os cretenses a construir uma grandiosa civilização.

Os cretenses habitavam a ilha de Creta, situada no Mar  Mediterrâneo, entre a Grécia, a Ásia Menor e o Egito. Sua posição geográfica era quase um traço de união entre a Ásia, a Europa e a África. Está no sul do mar Egeu e é a segunda maior ilha do mar Mediterrâneo oriental e a quinta maior de todo aquele mar. Segundo um mito, era naquela ilha que vivia o minotauro. A capital da ilha é a cidade de Iráclio.
Palácio de Cnossos

Não há muitas informações sobre a história de Creta, pois a escrita minóica, que era utilizada pelo povo cretense, ainda não foi totalmente decifrada. A escrita minóica era semelhante aos hieróglifos egípcios, formada por pequenas figuras e símbolos, a escrita Linear A.

A área do comércio de Creta abrangia as ilhas vizinhas do Mar Egeu, a ilha de Chipre, a Síria, de onde traziam metais para suas oficinas, e o Egito, de onde traziam marfim e perfumes. Possuíam um sistema de pesos e medidas semelhante ao dos egípcios e mesopotâmicos. Em Creta surgiu, pela primeira vez, um a civilização que tinha muito poder por dominar os mares, o que, recebeu o nome de talassocracia.

Provavelmente por volta do século XIV a.C., Creta foi dominada pelos aqueus, povo que invadiu a região da Grécia e estabeleceu-se na cidade de Micenas. Da união de culturas dos dois povos surgiu a civilização creto-micênica, ponto de partida para a brilhante cultura grega.

A civilização miscênica

A invasão que os Aqueus fizeram sobre o território grego demonstrou a superioridade desse grupo, que passou então a reprimir os pelágios e ocupar os seus terrenos mais férteis. Em pouco tempo, os Aqueus se tornaram superiores na Grécia e passaram, inclusive, a ser identificados como o povo grego.

O novo povo submeteu a ilha de Creta e estabeleceu sua forma econômica e de cultura. Os Aqueus eram grandes e fortes comerciantes e acabaram dominando economicamente também toda região do Mediterrâneo Oriental. Foram os fundadores de importantes cidades antigas que se tornaram grandes núcleos populacionais e comerciais como Micenas, Tirinto e Argos.

O desenvolvimento que os Aqueus tiveram na região gerou a chamada civilização micênica que representou a grande soberania desse povo durante muitos séculos. A decadência só aconteceu por volta de 1100 a.C. quando a civilização micênica entrou em conflito com a civilização cretense. Mas a destruição da civilização micênica que era tão bem estabilizada a avançada em sua época foi tão impactante para a Grécia que após sua desestruturação os gregos passaram por um período de aproximadamente 150 anos conhecido como Idade das Trevas.

Foram também os Aqueus que combateram os troianos na famosa Guerra de Tróia. Quando se diz que houve um conflito entre gregos e troianos, na verdade a expressão correta seria um conflito entre Aqueus e troianos.


O Genos - Período Homérico


O Período Homérico cuja principal fonte de informação são as obras de Homero, Ilíada e  Odisseia,representa uma nova fase na estruturação da sociedade grega em decorrência da invasão dos dórios no período anterior. O novo povo encerrou a cultura creto-micênica que esteve presente por séculos e em seu lugar deu início a cultura gentílica.
O poeta Homero

Com a desestruturação da civilização creto-micênica, a Grécia estabeleceu uma série de transformações que fundaram um novo cenário social, econômico e político. Nessa época, temos a formação do genos (propriedades em que uma grande família se matinha unida em torno da exploração econômica de uma mesma parcela de terras). Não havendo um proprietário, a riqueza produzida pelos membros de um genos era dividida entre seus integrantes.

No campo político, os genos eram comandados por um líder comunitário chamado pater, que exercia funções de caráter judicial, administrativo e religioso. Mesmo com a divisão igualitária dos bens, o grau de parentesco com o chefe do genos era capaz de definir algumas distinções sociais. Com a vindoura desestruturação da comunidade gentílica, a proximidade com o pater seria elemento determinante para um novo rearranjo social das populações gregas.

Ao longo do tempo, os genos teriam sérias dificuldades para sustentar toda a população que estava sob o seu domínio. As técnicas agrícolas pouco desenvolvidas não conseguiam acompanhar a velocidade com que as comunidades gregas se ampliavam. Durante algum tempo, o uso de terras menos férteis, a ampliação da mão de obra e a especialização do trabalho foram algumas alternativas que buscaram contornar essa situação.

Contudo, além dos problemas de produtividade, os genos se transformaram em palco de novas tensões sociais. Os parentes mais distantes do pater reivindicaram melhores condições de vida ao estarem insatisfeitos com a diminuição da renda familiar. Progressivamente, os bens que eram utilizados de maneira coletiva foram divididos entre os membros do genos. Aqueles que eram mais próximos do pater acabaram sendo privilegiados com as melhores terras.

A desintegração das comunidades agravou esse processo de diferenciação entre as classes sociais. Por um lado, temos uma parcela de privilegiados que mantinha o controle das melhores propriedades, monopolizavam as armas e conduziam as festividades religiosas. Por outro, pequenos proprietários, artesãos e trabalhadores livres se subordinavam ao poder dos grupos sociais mais abastados. As sociedades gentílicas passaram a ser controladas por aqueles que controlavam os instrumentos de poder.

Com o passar do tempo, as elites dos genos com afinidades culturais mais visíveis se uniram em grupos maiores que poderiam assegurar o controle de suas propriedades. Surgiam assim as chamadas fratrias. A reunião destas fratrias eram, por sua vez, responsáveis pelo desenvolvimento das tribos que, quando se reuniam, davam origem ao demos. Por meio da ampliação dessas organizações temos a formação das primeiras  cidades-Estado (pólis) da Grécia Antiga e o fim das comunidades gentílicas.

Os gregos e suas "colônias"


Ao adotar esse sistema de partilha dos bens, levando ainda em consideração o crescimento demográfico, a população grega passaria a sofrer com a escassez de terras. Com isso, gerou-se um tenso quadro social que somente viria a ser resolvido quando as próprias cidades gregas, entre os séculos VIII e VI a.C., buscaram ocupar outras regiões do Oriente e ao longo da orla mediterrânea. Foi a partir daí que observamos a formação das chamadas colônias gregas.

Inicialmente, a formação das novas colônias aconteceu de forma não planejada, sendo as ocupações feitas de forma espontânea. Contudo, essas iniciativas viriam a sofrer a intervenção das polis gregas, que regulariam a colonização de acordo com as necessidades do governo. Com essa mudança, os colonos passariam a obedecer às determinações do oikiste, líder que organizava a administração da colônia. Além disso, as regiões seriam escolhidas por meio de sua posição favorável a (à) navegação.

Em cada lugar conquistado, um ritual era realizado antes da demarcação dos lotes de terra. Cada colônia mantinha relações econômicas e culturais com a pólis que primeiramente ocupou a região. Nos primeiros anos de exploração, a colônia sustentava uma economia de caráter essencialmente agrário integrado às demandas da cidade com a qual mantinha vínculo. Contudo, com o passar do tempo, também poderiam vir a realizar outras atividades no campo do comércio e do artesananto.

Uma das primeiras regiões ocupadas foi a Trácia, ao norte do Mar Egeu, onde os gregos encontraram uma grande disponibilidade de terras férteis e regiões ricas em metais precisos. Em pouco tempo, a ocupação desse espaço permitiu a formação de novas rotas comerciais que abriram caminho para a colonização do Mar Negro. Nesse processo, observamos a formação de novas cidades mercantis como Bizâncio, hoje conhecida como Istambul, e Abidos.

Ao alcançarem a região litorânea do Mar Negro, os gregos passariam a conhecer outros lugares para além do mar Egeu e enfrentariam águas agitadas para, então, criarem outras colônias como Queroneso, Odessa e Tânais. Essas cidades tinham a importante função de proteger as rotas que ligavam o mundo grego ao Oriente e ainda promoviam o fornecimento de cereais, peixes, frutas e madeira para as cidades gregas.

Paralelamente, os gregos ainda teriam interesse em tomar posse das regiões localizadas ao sul do mar Mediterrâneo, onde já havia grandes civilizações ocupando tal espaço. Apesar de tal empecilho, dominaram a ilha de Chipre e, nas regiões próximas ao Egito, fundaram as cidades de Náucratis e Cirene. Partindo para o Ocidente, estabeleceram na Península Itálica colônias como Tarento, Crotona, Nápoles, Cumas, Messina e Siracusa, que seriam conhecidas como integrantes da Magna Grécia.



Período Arcaico (Esparta)
Esparta, uma das primeiras cidades-estados a surgir na Grécia, foi fundada no século IX a.C pelos invasores dórios, na fértil Planície da Lacônia, às margens do Rio Eurotas. Os aqueus que ali viviam ou se aliaram aos invasores, ou foram escravizados, ou fugiram. O nome da cidade veio de uma planta da Lacônia.

Transformações culturais
Com as mudanças estruturais do século VII a.C Esparta regrediu culturalmente. O governo passou a estimular o laconismo, a xenofobia e a xenelasia. O laconismo consistia em falar tudo em poucas palavras, o que limitou a capacidade de raciocínio e o espírito crítico dos espartanos. A xenofobia e a xenelasia (aversão e expulsão de estrangeiros) impediam o contato com idéias inovadoras, consideradas subversivas para o sistema. Esparta organizou um sistema de educação para reforçar ainda mais o status quo. Os cidadãos deviam viver para o estado, guerrear o inimigo e procriar filhos para fortalecer o exército. Isso explica a relativa liberdade sexual; até o empréstimo de esposas era muito comum, já que a finalidade era fornecer filhos ao estado. Os anciãos examinavam todo recém-nascido. Se não fosse robusto e sem defeitos, era lançado do alto do Monte Taigeto. As crianças ficavam com as mães até os sete anos.

Eram então entregues ao estado, que lhes dava educação cívica até os 12 anos. Os meninos, nessa idade, iam para o campo, onde deviam sustentar-se por conta própria. Dormiam ao ar livre, em camas de bambu, que colhiam com as mãos, às margens do Rio Eurotas. Comiam o que roubavam. Se fossem apanhados roubando, eram espancados até morrer, não pelo roubo, mas pela demonstração de inabilidade. Aos 17 anos, os rapazes passavam pela Kripta, ou brincadeira de esconde-esconde, uma prova de habilidade: de dia, espalhavam-se pelo campo, munidos de punhais, e à noite deviam degolar quantos escravos conseguissem apanhar. Quem passava pela prova, tornava-se maior e recebia um lote de terra. Ia viver como soldado no quartel, tomando apenas uma refeição por dia (sicitia) ao cair da tarde.

Os espartíatas não podiam casar até os 30 anos de idade, apenas coabitar. A partir dos 30, podiam participar da Assembléia, casar e deixar o cabelo crescer. Aos 60 anos, aposentavam-se do exército e podiam tormar parte no Conselho de Anciãos. Essa educação contribuía para eliminar uma parte dos escravos e facilitava o domínio sobre eles, pelo terror. Mas também contribuía para limitar o aumento da população espartíata, pois muitos filhos morriam logo ao nascer, recusados pelos velhos e lançados do Tiageto; ou desapareciam durante a fase militar da educação, de fome, frio, castigos ou na luta contra escravos. As mulheres só casavam caso se ajustassem perfeitamente com o companheiro. Gozavam de muita liberdade; em geral, possuíam riquezas, recebidas em herança ou conseguidas no comércio, atividade proibida aos homens. A conclusão é que o estado espartano adotou um tipo de organização adequado para evitar mudanças radicais, para que a minoria dória pudesse dominar a maioria escrava. Esparta permaneceu nesse sistema até o século VI a.C.

Período Arcaico (Atenas)
Atenas surgiu numa planície, a poucos quilômetros do mar e protegida por colinas, na Ática, uma península do Mar Egeu. A situação geográfica a protegeu das invasões, principalmente dos dórios. Os povoadores eram arianos aqueus, jônios e eólios; mas os atenienses se consideram jônios. Como em toda a Grécia, os povoadores da Ática assimilaram os primitivos habitantes, os pelágios. Num processo que durou séculos e se completou por volta do século X a.C, as aldeias da Ática aglutinaram-se pacificamente (cinescismo). Atenas tornou-se a capital da nova polis.

Entre suas colinas, destacava-se uma rocha de 100 metros de altura, sobre a qual os atenienses construíram a Acrópole, ao mesmo tempo santuário e fortaleza. Segundo a lenda, o fundador de Atenas foi Teseu, o vencedor do Minotauro de Cnossos, que teria percorrido as aldeias da Ática, para convencer os habitantes e reconhecer a supremacia ateniense. No século VIII a.C a economia de Atenas era ainda essencialmente rural. Mas as atividades artesanais e comerciais já ultrapassavam os limites da Ática. A camada social dominante era constituída pelos eupátridas, grandes proprietários de terras férteis, cultivadas por escravos, rendeiros ou assalariados.

Os artesãos (demiurgos) eram trabalhadores livres. Os eupátridas monopolizavam o poder monárquico e hereditário, encabeçado pelo Basileus, o rei: chefe de guerra, juiz e sacerdote. O Areópago, Conselho de Aristocratas, limitava o poder ao Basileu. Aos poucos, o Basileu perdeu poder para o Arcontado, que passou a governar com apoio do Aerópago. Os membros do Arcontado eram os arcontes, escolhidos inicialmente para um período de 10 anos, depois um ano. Cada arconte ou grupo de arcontes cuidava de uma área: exército, religião, assuntos internos, legislação. O regime de governo passou de monárquico a oligárquico.

Os legisladores (621-593 a.C)

Em 623 a.C um jovem aristocrata ateniense, Cílion, tentou tomar o poder, mas foi assassinado por Mégacles e seus seguidores aristocratas. O partido aristocrático foi então obrigado a fazer reformas, para acalmar o partido democrático (popular). Surgiram os legisladores, uma tentativa de solução reformista para a crise política de Atenas. Em 621 a.C, Drácon foi encarregado de preparar uma legislação. Até então, a legislação era apenas oral. Drácon impôs a pena de morte para a maioria dos crimes; e a severidade de suas leis era tamanha que, 27 séculos depois, draconiano continua sendo um adjetivo sinônimo de rigoroso, cruel. Sua legislação, porém, teve a importância de passar a administração da justiça das mãos dos eupátridas para o estado, que se fortaleceu. Só que, no plano político, nada mudou.
Dracon

Os eupátridas mantiveram o monopólio do poder. Antes, estavam apoiados no costume; agora, na lei escrita. Como a legislação de Drácon não resolveu a crise, em 594 a.C foi indicado como novo lesgislador: Sólon, aristocrata de nascimento, comerciante de profissão. Suas reformas abrangem os três aspectos fundamentais da vida ateniense. A importância da legislação de Sólon está em que promoveu reformas sem ceder ao reacionarismo dos eupátridas nem aos propósitos revolucionários das classes inferiores. Seu objetivo principal foi estabelecer uma justiça correta para todos, isto é, uma justiça baseada na igualdade de todos perante a lei (eunomia). As reformas de Sólon lançaram os fundamentos do futuro regime democrático de Atenas, implantado por Clístenes em 507 a.C.


A reforma de Clístenes (508-507 a.C)

Os princípios básicos da reforma de Clístenes eram: direitos políticos para todos os cidadãos; participação direta dos cidadãos no governo, por comparecimento à Assembléia ou sorteio, quando se tratava de escolher o ocupante de algum cargo. Os cidadãos eram 40 mil, numa população de 400 mil: 100 mil metecos (estrangeiros domiciliados em Atenas), 200 mil escravos e 60 mil mulheres e crianças, que não tinham direitos políticos. O sucesso da reforma resultou em nova divisão territorial, realizada por Clístenas. Ele dividiu a Ática em três regiões: litoral, cidade e interior. Cada região foi dividida em 10 unidades chamadas trities (ou demos). Clístenes organizou então 10 tribos, formando cada tribo em três trities, uma em cada região. Assim, por exemplo, a primeira tribo era composta por uma tritie do litoral, uma da cidade e uma do interior. Agrupando três a três as 30 trities existentes, resultaram as 10 tribos.

A tribo era formada, portanto, de elementos de todas as camadas sociais, quebrando o sistema de Sólon, baseado na origem regional e familiar. Todo cidadão devia inscrever-se numa tritie, perdendo com isso o nome da família, substituído pelo nome de sua tritie. Como o demos (tritie) era o elemento mais importante da reforma, o novo regime passou a chamar-se democracia, isto é, governo do demos, exercido por três poderes: Legislativo, Judiciário e Executivo. Clístenes organizou o governo com base na nova divisão territorial, adotando o método decimal para escolher os membros de cada tribo para formar o Conselho dos 500 (bulé); escolheu 10 arcontes, um por tribo; criou 10 unidades de infantaria (uma de cada tribo); 10 esquadrões de cavalaria; para comandar esses efetivos, escolheu 10 estrategos (generais).

O Poder Legislativo era composto pelo Conselho dos 500 (bulé) e pela Assembléia (Eclésia). Cada grupo de 50 membros do Conselho governava durante um mês (o calendário administrativo tinha 10 meses), com a função de preparar os projetos de lei. A Assembléia se reunia uma vez por mês para discutir os projetos. O Poder Judiciário estava a cargo de 6 mil cidadãos escolhidos por sorteio, 600 de cada tribo. A alta justiça, encarregada de julgar, sobretudo a constitucionalidade dos atos públicos, era exercida pelo Aerópago, o antigo órgão aristocrático, composto por ex-arcontes. O Poder Executivo, no início confiado aos arcontes, aos poucos passou para 10 estrategos, escolhidos pela Assembléia para um mandato de um ano. Um deles, o estratego-mor, exercia o cargo semelhante ao de presidente da República. Clístenes instituiu o ostracismo, suspensão de direitos políticos de cidadãos considerados nocivos ao estado. A votação do ostracismo se dava na Assembléia; usavam-se pedaços de cerâmica em forma de ostra (ostrakon), nos quais eram escritos os nomes dos culpados.

O cidadão que tivesse seu nome escrito mais de 6 mil vezes no Ostrakon, era exilado por 10 anos, sem confisco de bens. A reforma de Clístenes trouxe um período de estabilidade a Atenas, o que permitiu a formação de um sistema coeso, capaz de enfrentar com sucesso um longo período de perturbações externas, como as guerras pérsicas, que ajudaram a consolidar as instituições atenienses.

O período Clássico

O período Clássico foi o período das hegemonias e imperialismos no mundo grego (séculos V e IV a.C). A primeira potência dominante foi Atenas, seguida por Esparta e Tebas. As guerras médicas, ou pérsicas, projetaram a hegemonia ateniense, que durou até a Guerra do Peloponeso. Depois das hegemonias espartana e tebana, o mundo grego foi anexado por Filipe II ao reino da Macedônia e, na fase seguinte, ao Império Helênico de Alexandre Magno.

Guerras médicas
A causa das Guerras Médicas, ou Pérsicas, foi o conflito entre o mundo grego, em expansão, e o mundo bárbaro persa (os gregos chamavam os povos que não tinham cultura grega de bárbaros, “estrangeiros”). Depois que Ciro conquistou o Oriente Médio, o Império Persa continuou a crescer com Cambises e apefeiçoou sua organização com Dário I. O primeiro choque com os gregos começou na Ásia. Ao derrotar Creso, rei da Lídia, Ciro anexou toda a costa da Ásia, colonizada pelos gregos havia séculos. No início, os persas respeitaram a autonomia das cidades gregas, mas depois passaram a exigir impostos e contribuíram para que tiranos tomassem o poder. A região da Jônia se rebelou, principalmente a cidade de Mileto, com apoio de Atenas. Este foi o motivo imediato para a guerra total entre gregos e persas.
O auge ateniense ocorreu no governo de Péricles, depois do ostracismo de Címon. Péricles mereceu a confiança dos atenienses por 15 anos. Ele completou as reformas propostas por Efialtes (assassinado por aristocratas), instituindo o pagamento aos membros dos tribunais e da Assembléia abrindo o Arcontado às camadas inferiores; iniciou a construção de obras, tanto para embelezar a cidade e melhorar a defesa, quanto para empregar os desocupados; e o escultor Fídias, o poeta Sófocles, o historiador Heródoto e o filósofo Anaxágoras, seu guia.

A Conquista Macedônica e a civilização Helenística
Os macedônicos tinham origem ariana, como os gregos, que os consideraram bárbaros por muito tempo. Habitavam ao Norte da Grécia e mantinham-se isolados, ameaçados por inimigos de todo lado, como a Ilíria, a Trácia e o Épiro. Nem de saída para o mar dispunham e usavam o porto grego de Olinto para escoar os produtos de sua economia, agrária e atrasada. Sua organização política caracterizava-se pela concentração do poder nas mãos da nobreza da terra.

Filipe II organiza a Macedônia

Filipe tinha vivido em Tebas, por conta de uma promessa macedônia de ajuda militar aos tebanos, quando aquela cidade grega viveu seu curto período de hegemonia. Na Grécia, Filipe observou suas cidades-estados, enfraquecidas pelas guerras fatricidas; e familiarizou-se com a organização do exército tebano e com o uso das longas lanças de madeira introduzidas por Epaminondas.

Alexandre Magno e suas conquistas

Alexandre Magno, filho de Filipe II, tinha um caráter complexo. Considerava-se descendente de Aquiles por parte de mãe e de Hércules por parte de pai: um deus em potencial. A mãe, Olímpia, tinha ciúme doentio do marido Filipe, por causa de seus casamentos políticos; cultuava Dionísio e dormia enrolada em serpentes. Transmitiu ao filho o ódio por Filipe. Alexandre recebeu poderosa influência de Aristóteles, escolhido por Filipe para seu preceptor. O filósofo lhe incutiu o gosto pela cultura grega, pela Ilíada e a Odisséia, por Ésquilo e Eurípedes; e aversão pelos persas (Aristóteles os vira torturar um amigo até a morte, na Ásia Menor).

Alexandre assumiu o trono com uma Macedônia organizada e seu exército formado. Restavam dois problemas: a revolta das cidades gregas, após a morte de Filipe, e os numerosos herdeiros deixados pelo pai. Alexandre usou a violência. Arrasou as cidades gregas, exceto Atenas, mas inclusive Tebas, onde só ficaram de pé os templos e a casa de Píndaro. Convidou os irmãos por parte de pai para um banquete de divisão de herança e, no meio da festa, mandou assassinar todos. Precedido por Parmênion, que havia partido antes de Filipe morrer, Alexandre rumou para a Ásia com 40 mil homens, 12 mil deles na infantaria, o forte de seu exército.

Como líder supremo do helenismo, deveria libertar as cidades da Ásia e levar os gregos à vingança contra os persas. Venceu os sátrapas às margens do Rio Granico em 344 a.C e avançou para a Frígia, em cuja capital, Górdio, lhe apresentaram um nó inextricável, preso no timão de um carro. Um oráculo havia predito a sorte do conquistador da Ásia a quem o desatasse. Alexandre usou a violência: cortou o nó Górdio com um golpe de espada. Na planície de Issos, em 333 a.C, Alexandre pôs em fuga Dario III, que deixou para trás até a mãe, a mulher, as filhas e um grande espólio. Para anular o poderio marítimo dos persas, tomou o porto fenício de Tiro em 332 a.C. Rumou então para o Egito, onde foi recebido como salvador é, no templo de Amon-Rá, como o filho do deus. Recusando o acordo de paz oferecido por Dario III, derrotou-o em pleno centro do império persa em 331 a.C.

Uma a uma, caíram as cidades de Babilônia, Susa, Persépolis,. Dario acabou assassinado pelo sátrapa Besso, que depois Alexandre liquidou. Proclamado imperador persa, avançou para a Índia, percorreu a região do rio Indo e só não chegou ao rio Ganges porque os soldados se recusaram a segui-lo. De volta a Susa, desposou a filha de Dario e se preparava para nova campanha, provavelmente contra Cartago, no norte da África, quando o acometeu uma febre violenta. Morreu na Babilônia, em 323 a.C, com 33 anos, deixando um dos mais vastos impérios já criados até então.

O Império Desmorona

Alexandre deixou um herdeiro por nascer. Os generais então dividiram o Império entre si. O Reino da Macedônia, incluindo a Grécia, ficou com Antígono. O Reino do Egito, com Ptolomeu. A Ásia, com os selêucidas, descendentes de Seleuco, com duas capitais: Antioquia, na Síria; e Selêucia, na Mesopotâmia. Muito vasto e heterogêneo, este estado logo se desagregaria. Toda a Ásia menor se separou, dando origem aos reinos de Pérgamo, Galácia, Capadócia, Bitínia e Ponto Euxino (Mar Negro). A partir do século III a.C, todo o Planalto Persa constituiu o Reino dos Partas; e aos selêucidas restaram apenas a Síria e a Mesopotâmia. Entre 197 a.C e 31 a.C, os reinos helenísticos foram conquistados pelos romanos, verdadeiros herdeiros do Império de Alexandre Magno.


quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Índia Antiga



 Período Védico
A trajetória da civilização indiana tem início em 3300 a.C., período em que se encontram vestígios de um dos mais antigos centros urbanos formados nas proximidades do Rio Indo, as cidades de Harappa e Mohenjo Daro. No século XVIa.C., o território indiano foi alvo da ocupação de uma série de tribos nômades provenientes da região do atual Irã, comumente conhecidas como árias. Entre outras regiões, os árias controlaram porções do território onde a civilização hindu fixou marcantes traços da cultura indiana.
Esse período de ocupação marcou o início do Período Védico, que vai de 1500 a.C. até 500 a.C.. As grandes fontes documentais que narraram a história indiana nessa época são um conjunto de hinos religiosos conhecidos como Vedas. Esses hinos, todos eles escritos em sânscrito, se dividem em quatro partes: “Atharva-Veda”, “Sama-Veda”, “Yajur-Veda”, e “Rig-Veda”.Outra fonte de conhecimento histórica também é encontrada nos “Brahmanas Upanichades”, que relatam o momento em que a civilização indiana conquista a Planície Indo-Gangética. Além de fazer menção à formação e expansão indiana, esses documentos também são de grande proveito na compreensão das influências culturais que dá origem à sociedade hinduísta. É justamente quando observamos a organização da sociedade indiana em castas. O sistema de castas foi criado pelos sacerdotes brâmanes e tornou-se uma das bases da religião hindu. Essa forma de organização social só foi oficialmente abolida pela Constituição indiana em 1950. No entanto, apesar de proibido por lei, o sistema ainda sobrevive nos dias de hoje, principalmente nas áreas rural da Índia. As castas organizaram a sociedade indiana durante vários séculos. Dentro desse modelo, a condição de um indivíduo é determinada pelo seu nascimento. Em cada uma das castas observamos o direito nato de exercer determinadas profissões definidoras do prestígio e da posição social. A casta superior é ocupada pelos brâmanes, líderes religiosos do povo indiano. Em contrapartida, a casta inferior é formada pelos párias, pessoas incumbidas de serviços considerados degradantes.
O sistema de castas (Varna) indiano é dividido de acordo com a estrutura do corpo de Brahma. As quatro principais castas são:
•A boca (Brâmanes) representa os sacerdotes, filósofos e professores;
•Os braços (Xátrias) são os militares e os governantes;
•As pernas (Vaixás) são os comerciantes e os agricultores;
•Os pés (Sudras) são os artesãos, os operários e os camponeses.
A " poeira sob os pés" não foram originados do corpo de Brahma, por isso não pertencem às castas, mas tem um nome: são os
 Dalit ou párias, chamados de intocáveis (a quem Mahatma Gandhi deu o nome de Harijan, "filhos de Deus"). Com o passar do tempo, vem acontecendo centenas de subdivisões, que não param de se multiplicar.


No século VI a.C., o Período Védico é marcado por intensas transformações nos campos religioso e intelectual. É nessa época que notamos a profunda transformação empreendida por dois grandes líderes religiosos: Siddhartha Gautama e Mahavira. Ambos pregavam uma prática religiosa marcada pelo ascetismo e a constante reflexão espiritual. Siddharta Gautama foi responsável pela criação do budismo e Mahavira o precursor do jainismo.
Império Mauria
No século seguinte, os hindus (nome pelo qual a civilização indiana era designada) sofreram com a expansão do Império Persa. Sob a liderança dos reis Ciro I e Dario I,diversas regiões da atual Índia foram controladas pelos persas. No século IV a.C.,os macedônicos – liderados por Alexandre, O Grande – venceram os persas na Batalha de Gaugamela e, dessa forma, passaram a controlar algumas regiões da Índia como o Porus e Taxila.Com a divisão dos territórios alexandrinos, um novo império viria a se consolidar na Índia: o Império Mauria.Inicialmente liderados por Candragupta Mauria, os maurias expulsaram os gregos do território indiano exercendo controle sobre o território de Mágada. Nos governos de Bindusara (298 a 272 a.C) e Açoka(272 - 232 a.C), novas regiões vieram a ser anexadas pela política expansionista patrocinada por esses dois monarcas. No breve período em que se consolidou na história indiana, o Império Mauria foi responsável por um considerável número de obras públicas que incentivaram a agricultura e o comércio. Diversas obras de irrigação possibilitaram o desenvolvimento de uma próspera economia agrícola rigidamente controlada pelo Estado. Prisioneiros de guerra e camponeses eram obrigados a explorar terras pertencentes ao Estado, e as atividades comerciais eram mantidas com os gregos, persas, malaios e mesopotâmicos. A crise do Império Mauria possibilitou a invasão de outros povos. No século II a.C., o Reino de Bactria controlou a porção oriental do antigo Império Macedônico, sob a liderança de Demétrio II. Em 80a.C., os sakas, povo oriundo da Ásia Central, realizaram a expulsão dos gregos do território indiano e controlaram a região do Punjab. Nesse período diversos reinos dividiram a Índia, os andhras, sungas, tâmiles, bharasivas e kushans.

Depois de um período de grande instabilidade política, a Índia viveu um novo processo decentralização política com a ascensão do Império Gupta, no século IV.

O Império Gupta e a Índia Clássica
Após invasões estrangeiras, a história política do país conheceu um período de relativa obscuridade, situação que permaneceu até a ascensão de Chandragupta, fundador da Dinastia Gupta, em 320. Seu filho e sucessor Samudragupta (c. 340-380), que realizou conquistas no Norte e no Sul, foi grande protetor das artes e da Literatura. O Império Gupta alcançou seu apogeu sob Chandragupta II Vikramaditya, filho de Samudragupta, que expandiu mais ainda o império com a conquista do Reino Saka, de Ujjaim, e outros territórios. Após os reinados de Kumaragupta I e Skandagupta, o período imperial dos guptas terminou, embora a família tivesse continuado a governar com autoridade reduzida durante séculos. O império dividiu-se e surgiram novas dinastias.

Novas Invasões e as Rivalidades Dinásticas
No início do séc. VI, os hunos brancos ou eftalitas conquistaram a maior parte do país. O chefe huno Toramana e seu filho Mihiragula mantiveram a supremacia até o final do reinado deste último, quando o gupto Baladitya repeliu os hunos no Ganges. Em 533, Yasodharman restabeleceu a supremacia hindu na Índia Ocidental. No séc. VII, Harshavardhana (606-647), de Thamesar, grande protetor das letras e adepto do Budismo, tentou constituir um império, obtendo êxito apenas na Índia Setentrional. Após a morte de Harshavardhana, o Norte do país subdividiu-se em diversos Estados, destacando-se os governantes das dinastias Pala, Sena, Rajpute, Chalukia e diversas outras. No Sul, além dos chalukias, predominaram os rashtrakutas, e no extremo sul, os três reinos tâmiles --- Chola, Pandya, e Chera --- foram tomados pelos palavas, cujo apogeu ocorreu em fins do séc. VI. Os palavas dominaram até o final do séc. IX, quando cederam lugar ao império dos cholas, os quais, sob Rajaraja I (985-1014) e seu filho Rajendra (1014-44), controlaram não apenas o sul da Índia e o Ceilão como enviaram uma expedição naval à Indonésia e Malaia (atual Maláisia).

Domínio Islâmico
Primeiro Período. A expansão árabe na Índia iniciou-se com a conquista do Sind (712), mas somente consolidou-se após a ocupação da região hoje correspondente ao Afeganistão. Estabelecidos em Ghazni, no final do séc. X, escravos turcos começaram a realizar incursões no Punjab. Muhmud (971-1030) estendeu o domínio da Mesopotâmia ao Ganges e da Transoxiana aos desertos de Rajputana. Os descendentes de Muhmud foram expulsos de Ghazni por um poder muçulmano rival, os shansabanis de Ghor, e forçados a refugiarem-se no Punjab. A conquista efetiva veio com o Mahamed de Ghor, que derrotou definitivamente as forças hindus do soberano Rai Prithwiraj, de Delhi, na Batalha de Taraori (1192). Após o assassino de Muhamed (1206), um de seus generais, fundou a dinastia dos reis-escravos, de Delhi. Assim surgiu o Sultanato de Delhi, que durou até 1526, quando Babur lançou as bases do Império Mongol.
História recente
Os ingleses consolidam o domínio do país pelo Reino Unido em 1690, após guerra com a França. Em 1920 Gandhi desencadeia uma luta nacionalista. A Índia obtém sua independência em 1947, quando os líderes muçulmanos decidem formar um estado independente, o Paquistão.
Durante o período da guerra fria a União Soviética apoia Índia, sendo o Paquistão apoiado pelos Estados Unidos. O primeiro governo independente, até 1964, presidido por Jawaharlal Nehru, é estatizante e de origem socialista..
Os conflitos étnicos continuam. Em 1996, inicia-se uma fase marcada pela formação e queda de coalizões. O BJP é o partido mais votado nas eleições de 1998.
O triunfo militar das forças indianas em novo embate na Caxemira, em maio de 99, garante a vitória do BJP e partidos aliados nas eleições de setembro e outubro. A questão Caxemira continua com grupos muçulmanos na Caxemira indiana reivindicando a independência da região ou sua anexação ao Paquistão.
Independência
Em 15 de agosto de 1947, do Reino Unido.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Formação e independência dos E.U.A.






A segunda metade do século XVIII é conhecida como a Era das Revoluções. Observa-se nesse período a derrocada dos antigos mecanismos que davam sustentação ao Antigo Regime. As revoluções do período marcaram o fim do domínio dos estados Absolutistas. Surgia, então, um Estado Nacional de característica liberal, respondendo aos anseios da burguesia emergente politicamente.
Podemos concluir que a Idade Moderna representou a transição do sistema feudal ao Capitalismo contemporâneo e o Estado Nacional Absolutista representou a expressão do poder indireto da burguesia, ao mesmo tempo em que mantinha os privilégios da nobreza. Naquele momento, segundo o historiador Leo Huberman (História da Riqueza do Homem), “a burguesia era semelhante a um pintinho dentro do ovo prestes a nascer. Ele tem duas opções, ou rompe a casca ou morre sufocado (...)”. No século XVIII, o antigo regime poderia ser representado por esta casca a qual Huberman se referiu em sua comparação – ele era um entrave à expansão da riqueza e do poder burguês, assim como seu desdobramento nas colônias, o antigo sistema colonial.
A independência dos Estados Unidos inaugurou uma nova etapa da história. A Revolução Industrial (1760) e a Revolução Francesa (1789-1799) coroaram um período de transformações radicais.
O primeiro sinal de ruína do Antigo Regime foi o rompimento das colônias norte-americanas com a metrópole inglesa. O fim do Pacto Colonial evidenciou as novas práticas econômicas que seriam agora adotadas, influenciadas pelo Iluminismo e pelo Liberalismo. A consolidação do Estado burguês virá com a Revolução Francesa e a nova divisão do trabalho se consolidará com a Revolução Industrial.


As treze colônias e seu processo de independência

Durante grande parte do período em que a Inglaterra exerceu domínio sobre a América Anglo-Saxônica, o Pacto Colonial não se caracterizou pela extrema rigidez imposta por outros paises a outras áreas coloniais. De fato, as Treze Colônias não representavam o total interesse da Inglaterra na América e segundo Eduardo Galeano, “era mais importante para a Inglaterra uma ilhota no Caribe do que as colônias da costa leste da América do Norte” (As Veias Abertas da América Latina).

A colonização de povoamento, aliada à política de tolerância adotada pela Inglaterra, propiciou às colônias do Norte e do Centro um desenvolvimento autônomo, cuja economia era baseada no comércio e produção de manufaturas. As colônias do Sul, que praticavam a economia agroexportadora, sobretudo de algodão, eram rigidamente controladas pelas regras do Pacto Colonial, embora durante o século XVII os problemas internos vividos pela Inglaterra tivessem dificultado o processo de fiscalização.

Após a Guerra dos Sete Anos (1756-1763) com a França, a economia da Inglaterra encontrava-se seriamente abalada. Apesar da vitória inglesa na guerra, impondo à França perdas de territórios coloniais como o Canadá e a Índia, o conflito repercutiu negativamente nas finanças da Grã-Bretanha; tornou-se necessário recuperar o prejuízo.

Como era habitual no comportamento metropolitano, a Coroa Inglesa resolveu se socorrer de suas colônias para recuperar a economia. Londres restringiu a liberdade econômica das suas colônias na América do Norte, arrochando o Pacto Colonial.


O arrocho colonial

O Parlamento Inglês decretou uma série de impostos coloniais a fim de aumentar a arrecadação. As principais leis de impostos coloniais foram:

· 1764 – Sugar Act (Lei do Açúcar): todo açúcar não oriundo das Antilhas Britânicas seria altamente taxado. Afetava principalmente os contrabandistas que atuavam no comércio triangular, envolvendo o Caribe Espanhol (Cuba), a costa da Nova Inglaterra e a África.

· 1765 – Stamp Act (Lei do Selo): incidia sobre livros, jornais e documentos publicados na colônia, que teriam de receber o selo da Coroa e o valor seria incorporado ao preço.

Essas leis fizeram com que os colonos exigissem representatividade junto ao Parlamento Britânico para defender seus interesses. A pressão colonial, aliada à atuação de parlamentar William Pitt, fez com que o Stamp Act fosse revogado. Em 1766, no entanto, as relações entre as Treze Colônias e a metrópole já estavam comprometidas.


Em 1767, o Parlamento, através do então Primeiro Ministro, Towshend, retomou o arrocho colonial. A reação na colônia foi imediata, colocando em confronto os colonos e o exército inglês. Em Boston, uma manifestação acabou sendo tragicamente dispersada pelos canhões britânicos e o episódio ficou conhecido como o Massacre de Boston (imagem abaixo) devido à violência das tropas metropolitanas.

Com os ânimos exaltados, a Inglaterra decidiu diminuir o arrocho. Contudo, em 1773, a situação volta a se agravar com a decretação de mais uma lei, o Tea Act (Lei do Chá). Por esse decreto, o comércio de chá nas colônias ficou sob monopólio da Companhia das Índias Orientais, controlada por comerciantes metropolitanos. O monopólio da Companhia prejudicava os comerciantes da colônia que ficaram proibidos de comercializar o chá.

Na noite de 16 de dezembro de 1773, em resposta ao Tea Act, colonos disfarçados de índios atacaram três navios da Companhia no porto de Boston e jogaram a carga de chá no mar. Esse episódio foi denominado Boston Tea Party (Festa do Chá de Boston). A situação ficava cada vez mais insustentável e já se evidenciava o processo de ruptura colonial.



Radicais e conservadores

Havia um sentimento generalizado na sociedade norte-americana em favor da autonomia frente à metrópole, mas esse sentimento tinha gradações diferenciadas, que se polarizavam em dois grupos: conservadores e radicais.

· Conservadores. Formado principalmente pelos grandes proprietários rurais do Sul e grandes comerciantes do Norte e do Centro, ou seja, era a aristocracia rural e a alta burguesia. Queriam o fim da excessiva exploração metropolitana, mas tinha medo da instalação de um governo que tivesse a participação das camadas populares, o que poderia significar o fim de seus privilégios.

· Radicais. Grupo formado pelos pequenos proprietários, pequenos comerciantes, trabalhadores livres e pessoas que defendiam os ideais iluministas. Defendiam a ruptura definitiva com a Inglaterra, a criação de um governo que atendesse às necessidades da maioria, os valores democráticos, a igualdade política entre todos os cidadãos e a igualdade de oportunidades. Foram os fundadores dos valores patrióticos característicos da sociedade norte-americana.

É necessário entender que os valores democráticos defendidos pelos radicais não se estendiam a toda a população dos Estados Unidos. Eles entendiam como cidadãos, ou seja, aqueles que têm direitos políticos, apenas a população masculina, branca e de origem anglo-saxônica. As mulheres, a população indígena e os afro-americanos ficavam de fora dos ideais de igualdade e de liberdade (sobretudo os afro-americanos escravizados).

Os radicais reuniam-se em organização que tinham a função de ordenar as ações populares contra os abusos da metrópole. Estima-se que havia centenas de organizações desse tipo, espalhadas por várias colônias, atuando em conjunto ou separadamente. A mais conhecida dessas organizações era a Filhos da Liberdade. Essas associações conferiram ao processo de independência dos Estados Unidos em caráter muito popular, fato que é comemorado até os dias de hoje por aquele povo.


A guerra de independência

Uma série de medidas retaliadoras tomadas pela metrópole, em 1774, para responder às manifestações coloniais, ficaram conhecidas como Leis Intoleráveis :

  • fechamento do porto de Boston,
  • exigência de indenização pela perda da carga de chá 
  • ocupação militar da colônia de Massachussets
 Essas medidas tiveram uma repercussão extremamente negativa entre os colonos.

Em setembro de 1774, os colonos se reuniram no Primeiro Congresso Continental da Filadélfia, onde decidiram boicotar economicamente a Inglaterra enquanto vigorassem as Leis Intoleráveis. Essa decisão teve o efeito de uma declaração de guerra. O governo inglês mobilizou suas tropas em direção a colônia rebelada; os colonos se armaram para resistir ao avanço metropolitano. Em 1775, Lexington e Concord foram atacadas pelas tropas inglesas, o que determinou o início da guerra de independência.

O conflito armado começou em abril de 1775, e deixou claro aos colonos que havia a necessidade de uma organização militar de grande porte para fazer frente ao exército inglês. Thomas Jefferson e Dickinson redigiram um documento intitulado “Declaração sobre os Motivos e a Necessidade de Pegar em Armas”, no qual ficava clara a forma de reação dos colonos. O comando das operações militares foi entregue a George WashingtonGeorge Washington, um conservador do Sul, capaz de impor confiança aos grandes proprietários sempre temerosos de que o conflito colocasse em risco seus bens.

É necessário entender que, antes do inicio da guerra, os habitantes das colônias da América do Norte entendiam que eram ingleses, assim como as pessoas que moravam aqui no Brasil entendiam que eram portuguesas, uma vez que a colônia era uma extensão do território metropolitano além-mar. Foi necessária uma grande doutrinação para que os colonos passassem a pensar em si próprios como americanos, e não como ingleses, caso contrario corria-se o risco de um retrocesso no processo de independência. Por isso, faz parte da luta de independência norte-americana uma vasta literatura escrita pelos lideres do movimento, que tinha a função de realizar essa doutrinação.

Talvez o mais importante documento com esse caráter tenha sido o panfleto escrito por Thomas Paine em janeiro de 1776. O pequeno texto, intitulado “Senso Comum”, argumentava que uma ilha (Inglaterra) não devia governar um continente (América do Norte) e expressava com clareza a idéia de independência. O panfleto de Paine colocava para as pessoas comuns de forma clara e direta as idéias de liberdade que os radicais já discutiam há anos. Seu efeito foi imediato e arregimentou grande número de populares para a luta. A pressão popular obrigou os conservadores, ainda reticentes quanto à ruptura com a Inglaterra, a se colocarem a favor da independência.

No Segundo Congresso Continental da Filadélfia ficou decidida a ruptura com a metrópole. Thomas Jefferson, com a colaboração de Benjamin Franklin, Roger Sherman, John Adams e Robert Livingston, escreveu a Declaração de Independência, que foi aprovada pelo Congresso no dia 4 de julho de 1776. A declaração de independência afirmava: “Consideramos como uma das verdades evidentes por si mesmas que todos os homens são criados iguais; que receberam do seu criador certos direitos inalienáveis, entre os quais figuram a vida, a liberdade e a busca da felicidade; que os governos que foram estabelecidos precisamente para manter esses direitos, e que seu legitimo poder deriva do consentimento de seus governados; que cada vez que uma forma de governo se manifesta inimiga desses princípios, o povo tem o direito de mudá-la ou suprimi-la e estabelecer um novo governo, baseando-se naqueles princípios e organizando seus poderes segundo formas mais apropriadas para garantir a segurança e a felicidade. A prudência exige que os governos estabelecidos desde muito tempo não devem ser modificados por motivos fúteis e passageiros [...] Mas quando uma série de abusos e usurpações convergem invariavelmente para o mesmo fim e demonstram o objetivo de submeter o povo a um despotismo absoluto, é direito do povo, e até seu dever rejeitar tal governo e buscar novas garantias de sua segurança futura. Tal é a situação das colônias agora, e daí a necessidade que as obriga a mudar seu antigo sistema de governo”. (GRIMBERG, Carl. História universal. V.10, p.39).

A Guerra de Independência se estendeu até 1783. O apoio francês, que buscava reconquistar as terras perdidas na Guerra dos Sete Anos, foi conseguido por Benjamin Franklin após a vitória dos colonos em Saratoga (1777). Em 1781 os ingleses se renderam em Yorktown e em 1783 foi assinado o Tratado de Paris, reconhecendo a independência da primeira República da América.
Pela primeira vez foi formado em governo estruturado de acordo com os pressupostos do Iluminismo. Essa forma de Estado se organizava a partir de uma nova relação entre o governante e a nação; as pessoas deixavam de ser súditos submetidos à vontade do governante e passavam a ser cidadãos com poderes para destituir o governo caso este não estivesse zelando pelo bem-estar da maioria. Mas não devemos nos esquecer de que, no final do século XVIII, esses privilégios ainda eram restritos apenas a uma parcela da sociedade (homens adultos, brancos e de origem anglo-saxônica).
A consolidação da República veio em 1787 com a promulgação da Constituição, de caráter federalista e presidencialista, com separação dos três poderes. George Washington foi escolhido pelo Congresso para ser o primeiro presidente dos Estados Unidos.
A emancipação dos Estados Unidos reforçou os ideais de independência na América Latina, agravando a crise do Antigo Sistema Colonial.



A expansão territorial e a consolidação dos EUA (século XIX)


Com a organização da República, os Estados Unidos iniciaram sua expansão territorial ainda no século XVIII. A jovem nação tornou-se um pólo atrativo para a imigração européia, pois viveu em amplo desenvolvimento econômico.

A imigração foi um dos principais fatores da expansão territorial dos Estados Unidos. Comprimidos entre os Montes Apalaches e o Oceano Atlântico, contando com a chegada sistemática de novos habitantes, era necessário buscar novas fronteiras. Estas se encontravam a Oeste e eram formadas por terras ocupadas pela população indígena.

Os conflitos napoleônicos do início do século XIX beneficiaram o comércio externo norte-americano. A Inglaterra não enxergou com bons olhos o crescimento comercial dos Estados Unidos e a aproximação destes com a França Napoleônica. Entre 1812 e 1814, ocorreu um novo conflito armado entre Estados Unidos e Inglaterra, que foi denominado de a Segunda Guerra de Independência.

O conflito não teve conseqüências sérias e terminou com a assinatura de um tratado de paz (Paz Eterna de Gand), mas serviu para despertar o sentimento nacionalista. A necessidade de manutenção da unidade nacional e territorial e as constantes ameaças de uma recolonização, ou mesmo de uma intervenção armada por parte das potências européias, desenvolveu o pensamento isolacionista norte-americano. Em 1823 era divulgada a Doutrina Monroe, determinando que os Estados Unidos não iriam se envolver nos assuntos internos da Europa mas, em contrapartida, não aceitariam a intervenção dos europeus nos assuntos americanos. O lema dessa política era “América para os americanos”.

No início do século XIX os Estados Unidos se lançaram na Marcha para o Oeste, comprando ou anexando territórios e ampliando sua extensão geográfica. Durante esse processo ocorreu uma verdadeira guerra entre norte-americanos e índios, que resultou no genocídio das populações nativas e na ocupação de suas terras pelos colonos.
A partir da costa do Atlântico, a expansão territorial atingiu a costa do Pacífico em 1846, fazendo o novo país atingir dimensões continentais. Observe as etapas dessa expansão:
· 1803 – A Lousiania é comprada de Napoleão Bonaparte;
· 1819 – A Flórida é adquirida junto à Espanha;
· 1846 – Anexação do Oregon. Chegada ao litoral do Pacífico;
· 1848 – Numa guerra contra o México, os Estados Unidos incorporam dois milhões de quilômetros quadrados, atingindo o Pacífico. Pelo tratado de Guadalupe-Hidalgo foram anexadas Texas, Califórnia, Novo México, Utah, Nevada e Arizona; “Pobre México: tão longe de Deus, tão próximo dos Estados Unidos!”.
· 1867 – O Alasca é comprado da Rússia;
· 1896 – O Havaí é invadido e anexado.
A expansão foi justificada pela Doutrina do Destino Manifesto, segundo a qual “os norte-americanos foram escolhidos por Deus para liderar a América e o mundo”.
O caráter capitalista da expansão era claro e a partir da Florida foi possível alcançar a América Latina e, através do Pacífico, os mercados orientais da China e do Japão.


Mecanismos da Expansão territorial

a) Compra de Territórios e diplomacia.

Pelo Tratado de Versalhes, 1783, firmado com a Inglaterra, o território dos Estados Unidos abrangia da Costa do Atlântico até o Mississipi.

No século XIX, essa realidade se altera consideravelmente. Em direção ao Oeste aparece o território da Louisiana, colônia francesa, que Napoleão Bonaparte - devido às guerras na Europa e Antilhas, Haiti - negociou com os norte-americanos por 15 milhões de dólares (1803). A Flórida foi comprada dos espanhóis, em 1819, por cinco milhões de dólares. A Rússia vendeu o Alasca aos Estados Unidos por sete milhões de dólares. A anexação de Óregon - Noroeste -, colônia inglesa, região que despertou pouco interesse até 1841, foi cedida aos americanos em 1846.

b) Guerra.

O Sudoeste americano pertencia ao México. A conquista desse território ocorreu através da guerra. Em 1821, os colonos americanos passaram a colonizar esse território com autorização do governo mexicano que exigiu-lhes a lealdade e a adoção da religião católica por parte dos pioneiros. A dificuldade encontrada pelo México na consolidação do Estado Nacional refletiu-se em conflitos internos e no estabelecimento de ditaduras, como a de Lópes de Sant'anna. Esses fatos impediram um efetivo controle sobre essa região, outrora concedida. Dessa maneira, o Texas estava fadado a compor os Estados Unidos, o que ocorreu em 1845, quando os colonos norte-americanos ali estabelecidos declararam a independência do território em relação ao México e a sua incorporação aos Estados Unidos.

A guerra estendeu-se até 1848, quando foi assinado o Tratado de Guadalupe-Hidalgo, que estabelecia o Rio Grande como linha fronteiriça entre o México e o Texas, além da cessão da Califórnia, Arizona, Novo México, Nevada, Utah e parte do Colorado aos Estados Unidos, por 15 milhões de dólares.

Em 1853, foi completada a anexação de territórios do México com a incorporação de Gadsden. Metade do território mexicano havia sido perdida para os Estados Unidos. Lázaro Cárdenas, presidente mexicano (1934-1940), em relação ao imperialismo norte-americano comentou: "Pobre México, tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos".
d) A guerra de extermínio contra os indígenas.
As maiores vítimas da marcha para o Oeste foram os indígenas. Estes encontravam-se em estágios de pouco desenvolvimento se comparados aos astecas, maias e incas, daí sua dificuldade para resistir ao domínio e força dos brancos europeus.
Os norte-americanos acreditavam que, além de serem os predestinados por Deus a ocuparem todo o território, deveriam cumprir a missão de civilizar outros povos.
As tribos do Sul, mais desenvolvidas, proporcionaram uma resistência maior à ocupação do branco. No entanto, a única opção das tribos indígenas foi a ocupação de terras inférteis em direção ao Pacífico, até o seu extermínio. Hoje, os remanescentes desses povos vivem em reservas indígenas espalhadas pelo país.


A guerra de secessão (1861 – 1865)

Os Estados Unidos conheceram dois tipos de colonização: no Sul foi estabelecida a plantation, trabalho escravo e produção voltada para o mercado externo; no Norte ocorreu à colonização de povoamento, com o uso de pequenas propriedades, trabalho livre e produção voltada para o mercado interno. Após a independência, as duas regiões mantiveram-se no mesmo sistema econômico que praticavam no período colonial.

Mas, na segunda metade do século XIX, o mundo passou a se organizar de acordo com a Divisão Internacional do Trabalho. Essa nova forma de ordenação internacional coloca, de um lado, os países industrializados, comercializadores de excedente industrial e, de outro, os países não-industrializados, de economia primária, fornecedores de matérias-primas e de produtos agrários e de economia dependente. A regra geral é que do primeiro grupo façam parte os países ricos enquanto os países pobres se aglutinem no segundo grupo.

Naquele momento histórico, uma boa parte das nações definia de que lado ficaria. Para algumas nações essa situação já estava estabelecida. Por exemplo, a Inglaterra, incontestavelmente, estava no grupo dos países ricos, enquanto o Brasil, que havia optado por manter a economia agroexportadora, candidatava-se a pertencer ao conjunto dos países de economia dependente. Porém, para os Estados Unidos, essa questão estava em aberto porque em seu território conviviam as duas propostas de política econômica: o Sul preferia manter a economia agrícola destinada ao mercado externo, enquanto o Norte apostava na industrialização e no desenvolvimento do mercado interno. A busca pela definição do rumo econômico que o país deveria tomar foi o cenário onde se desenrolou a Guerra Civil Norte-Americana, conhecida como Guerra de Secessão.


A questão alfandegária e a questão da mão-de-obra

Às vésperas da Guerra Civil, duas questões imediatas opunham o Norte e o Sul. Em primeiro lugar, havia uma divergência com relação à política alfandegária. Os estados do Norte queriam aumentar as taxas alfandegárias para proteger seus produtos industrializados daqueles importados da Inglaterra. Os estados do Sul eram contra a elevação dos impostos porque isso prejudicaria suas exportações de algodão para as indústrias inglesas (a política alfandegária é uma via de duas mãos: quando um país aumenta os impostos sobre os produtos importados, os seus produtos passam a ser super-taxados pelos países que foram prejudicados pela elevação alfandegária).

O segundo problema estava relacionado com o trabalho escravo, que ainda predominava no Sul. Os estados do Norte eram claramente favoráveis à abolição da escravidão por dois motivos: primeiro porque no sistema capitalista, como já vimos, o trabalho deve se tornar uma mercadoria (na escravidão, o trabalhador é que é a mercadoria); segundo, porque os ex-escravos poderiam formar um expressivo mercado de mão-de-obra para as indústrias nortistas em expansão.

Quando, em 1861, Abraham Lincoln elegeu-se presidente apoiado em uma plataforma que defendia a abolição da escravidão e o aumento das tarifas alfandegárias, os estados do Sul decidiram separar-se (secessão) do Norte e formar um novo país. Os estados do Norte, então, deflagraram a guerra não aceitando a divisão do país porque os estados do Sul, representavam um mercado fornecedor de matéria-prima e mão-de-obra e consumidor do excedente industrial.


O Norte venceu a guerra. Esse desfecho significou sobretudo, a vitória do projeto da burguesia do Norte, ou seja, a expansão e consolidação do parque industrial norte-americano, sua inserção no grupo dos países economicamente desenvolvidos e que comandam a economia mundial. A partir desse crescimento econômico, os Estados Unidos passaram a exercer uma política imperialista na América Central, na América do Sul e nas ilhas do Oceano Pacífico. Assim, “A vitória do norte em 1865 assegurou a continuidade do crescimento dos Estados Unidos como nação. A décima quarta emenda à constituição declarava expressamente que todos eram cidadãos dos EUA, e não de um determinado estado ou território. Ao afirmar que nenhum cidadão poderia ser privado da vida, da propriedade ou da liberdade sem o devido processo legal, estabeleceu que o “devido processo” seria definido pelo governo nacional e não pelos governos estaduais ou territoriais. Os anos que se seguiram à guerra civil americana assistiram a consolidação econômica do país, sob direção da empresa privada nortista. O símbolo do triunfo do Norte como formador da nação sobreveio com o assentamento do ultimo trecho dos trilhos da estrada de ferro Union Pacific, uma ferrovia transcontinental, em 1869. (...) A formação nacional, por seu turno, produziu uma unidade econômica suficientemente grande para gerar os meios com os quais sustentar o crecimento econômico; e suficientemente confiante para que entrasse em concorrência com a Inglaterra.”. (Adaptado de BURNS, EDWARD McNALL. História da Civilização ocidental: do homem das cavernas as naves espaciais / EDWARD McNALL BURNS, ROBERT E. LERNER, STANDISH MEACHAM; São Paulo: Globo, 2003, p.596).

A vitória do Norte unificou economicamente o país em torno do projeto industrial, mas não foi capaz de eliminar diferenças regionais. Uma grande parte dos sulistas jamais aceitou a abolição da escravidão imposta pelos ganhadores da guerra. Sobretudo, não aceitaram a transformação dos ex-escravos em cidadãos norte-americanos. Sem poder se voltar contra aqueles que lhes impuseram essa situação, voltaram-se contra a população negra, praticando um dos mais ferozes racismos de que temos conhecimento.