sábado, 20 de abril de 2013

China Medieval


Por volta do século VII, as diferenças entre a China e a Europa eram maiores do que as semelhanças; enquanto na Europa o poder se dividia entre vários senhores feudais, na China, o poder se concrentrava nas mãos dos imperadores. Enquanto as cidades europeias declinavam, as chinesas floresciam, abrindo-se inclusive ao contato com o Ocidente.
Dinastia Tang 
       O período Tang é considerado a época de ouro da China medieval. Por meio da guerra e/ou da diplomacia, o Império Chinês conquistou vasta área, que vai da Coreia, a leste, até a Pérsia, a oeste, onde foi detido pelos árabes muculmanos, em 751, na Batalha de Talas. Com essa rápida expansão, a China dos Tang tornou-se uma das maiores potências daqueles tempos.

A sociedade
       Na época dos Tang, o imperador governava por meio de decretos, nomeando e demitindo pessoas conforme sua conveniência; já a nobreza, o grupo mais rico e prestigiado da sociedade, dominava também a vida política, ocupando importantes cargos no governo. Muitos desses nobres eram parentes do imperador. A maioria deles morava em residências confortáveis, localizadas no campo, e cultivava o hábito de beber chá, jogar xadrez e enfeitar a casa com flores.
       Havia ainda artesãos agrupados em corporações que os protegiam, empregando-os  em casas de famílias ricas e arrumando colocação para seus produtos. Além deles, havia os trabalhadores especializados, como babás, guardas, músicos, e os trabalhadores braçais, como os carregadores de água e os que ajudavam a construir casas e estradas.
       Já os camponeses formavam a maioria da população chinesa e levavam uma vida muito difícil, trabalhando do nascer ao pôr-do-sol nas plantações de arroz, chá, cereais e frutas e tendo poucos minutos para a principal ou única refeição diária, feita ao meio-dia. alimentavam-se basicamente de carne de porco ou de peixe e arroz.
       A sociedade chinesa estava assim constituída quando foi fortemente influenciada por uma religião vinda da Índia, o budismo.

O budismo
      O budismo é uma religião surgida a partir dos ensinamentos de Sidharta Gautama, príncipe nascido no séc. VI a.C. numa região pertencente à Índia. Sidharta abandonou uma vida de luxo e prazeres para viver entre os pobre e meditar. O que ele mais desejava era descobrir por que o ser humano sofre.
Sidharta Gautama

      Após  muito meditar, chegou à conclusão de que a fonte de todo o sofrimento é o desejo. O desejo de riqueza, de poder, de fama....Acreditava que, libertando-se do desejo, a pessoa eliminaria o sofrimento e alcançaria o nirvana. Aos poucos, várias pessoas passaram a segui-lo, chamando-o Buda, que significa "o iluminado". Buda acreditava na reencarnação, isto é, que a alma não morre com a pessoa, mas continua a existir em outro corpo para pagar pelos erros das vidas passadas e ir se purificando aos poucos.

     Para chegar ao nirvana, Buda aconselhava seguir oito regras:

  1. Ter boas intenções;
  2. Ser honesto;
  3. Esforçar-se o suficiente;
  4. Evitar maus pensamentos;
  5. Concentrar-se ao fazer as coisas;
  6. Ser justo nas decisões;
  7. Falar somente o necessário e no momento oportuno;
  8. Fazer o que é conveniente.
     Alcançando o nirvana, a pessoa não teria mais de reencarnar (renascer em outro corpo) e, portanto, não precisaria mais sofre. Valorizando a caridade, a a sabedoria e a não violência, o budismo difundiu-se rapidamente.

O budismo na China
        Os principais responsáveis pela entrada do budismo na China foram os comerciantes; por isso, os primeiros centros budismo chineses ficavam nas áreas comerciais das grandes cidades. Assim como o cristianismos se espalhou de Roma para o restante da Europa, o budismo se alastrou da China para diversos pontos do Oriente, como Tibete, Coreia e Japão.
Governo x budismo
        Conforme o budismo foi crescendo, o governo chinês passou a persegui-lo por três motivos principais:
Os monges e as monjas não pagavam impostos sobre os mosteiros e as fazendas que possuíam;
Ao se converter ao budismo - religião pacifista - , as pessoas negavam-se a lutar na guerra pelo Império Chinês;
Os templos budistas faziam sinos, objetos de culto e estátuas de cobre, porém o governo necessitava desse metal para cunhar moedas.
       Em 845, o governo chinês baixou um decreto acusando o budismo de ser uma religião de estrangeiros e de enfraquecer a China. Em seguida,  apropriou-se de terras, metais e moedas de vários mosteiros, mandou destruir muitos deles e obrigou milhares de religiosos a deixar seus cargos.
      Com isso, o budismo sofreu um duro golpe na China. Mas o governo chinês só conseguiu impor essas medidas em algumas regiões do imenso território, sobretudo na capital. No restante do país, os budistas continuaram praticando seus culto e mantendo seus mosteiros. Hoje, o budismo ainda é uma religião com grande número de seguidores cuja influência se faz sentir em várias partes do mundo, inclusive no Brasil.

A dinastia Song
      Durante a disnastia Song, iniciada em 960, a China progrediu. Registrou-se o desenvolvimento da cultura do arroz, a população passou a se alimentar melhor e cresceu, chegando a 100 milhões de habitante. O governo recolheu mais impostos, incentivou a navegação e o comércio de longa distância e passou a manter orfanatos, cemitérios públicos, celeiros comuns (tarefas feitas antes pelos monges budistas). Durante a dinastia Song ocorreram também inovações técnicas, como a xilogravura e a tipografia.

A impressão de livros na China
 No século XI, enquanto os europeus copiavam livros à mão, num trabalho cansativo e que, por vezes, demorava anos, os chineses já imprimiam livros por meio de duas técnicas de impressão criadas por êles; a xilogravura e a tipografia.

No caso da xilogravura, o trabalhador esculpia num único bloco de madeira todos os ideogramas da página a ser impressa, (ideograma: desenho que representa uma ideia) . Depois aplicava tinta ao bloco e colocava a página sobre ele, pressionando-a com uma almofada. A seguir, a página impressa era posta para secar. A xilogravura foi usada pela primeira vez na China em 868.

No caso da tipografia inventada em 1041 pelo chinês PI-SHENG, o trabalhador fabricava blocos individuais de cerâmica, um para cada ideograma.
Os blocos eram acomodados numa caixa de modo a formar frases com sentidos. As frases eram dispostas verticalmente. A seguir aplicava-se tinta e imprimia-se a página. Se o objetivo fosse produzir cinquenta livros, cada página era impressa cinquenta vezes.

Os blocos individuais de cerâmica inventados por PI-SHENG no século XI podem ser considerados antepassados dos tipos móveis construídos com o mesmo fim por J. Gutenberg, no século XV.
Para os chineses, a tipografia era bastante trabalhosa, pois, enquanto nosso alfabeto tem 26 caracteres, a escrita chinesa possui cerca de 3.500. Isso explica por que na China daquela época a xilogravura continuou a técnica de impressão predominantes.
A xilogravura penetrou na Europa só no final do século XIV ( 1380 ), e a tipografia por volta de 1456.

Kai-Feng, capital da China no ano 1000
          Entre os séculos X e XI, a China passou por um processo de urbanização acelerada. Exemplo disso é a cidade de Kai-Feng, centro comercial com hospedarias, lojas e oficinas de artesanato. Nas praças principais viam-se restaurantes finos, onde os mais ricos chegavam de riquixá (cadeirinha com duas rodas puxadas por um homem a pé). Já os mais pobre alugavam carroças ou barcos para se locomover, transportar pertences ou comerciar.
Riquixá

        A capitalda China ligava-se a outras grandes cidades chinesas por meio de estradas de pedras e tijolos, onde era intenso o trânsito de comerciantes. Outra via de comércio eram os ricos, constantemente percorridos por veleiros, que também viajavam para o exterior. As viagens de longa distância realizadas pelos grandes veleiros chineses (os maiores do mundo na época) tornaram-se mais seguras graças à bússola e à pólvora, que também foram descobertas na China.
        Navegando na direção sudeste, abarrotados de mercadorias (sedas, porcelanas, papel), os grandes veleiros chineses iam até a Índia. Lá os comerciantes chineses trocavam com os árabes seus produtos por produtos ocidentais.

A China invadida 
       Em 1127, povos guerreiros, conhecidos como tártaros, invadiram a China e tomaram a parte norte do país, obrigando os Song a mudar sua capital para a cidade de Hang-Tchou, no sul. No século XIII, uma nova onda de invações atingiu a China. Dessa vez, foram os mongóis, liderados por Gêngis Khan.
Kublai Khan

       Seu neto, Kublai Khan, venceu a resistência chinesa e, em 1279, tornou-se imperador da China, com o nome Yuan. Foi naquela época que o europeu Marco Polo viajou para a China e registrou a experiência em seu Livro das Maravilhas . Até então, os europeus não sabiam quase nada sobre a China, pois seus contatos com os chineses eram raros por causa da enorme distância que os separava, das dificuldades de comunicação por terra e mar e dos frequentes ataques de hunos ou mongóis.

Marco Polo na China 
Quando o Livro das maravilhas foi publicado pela primeira vez, por volta de 1300, os europeus descobriram um novo mundo. Um dos trechos mais interessantes é o que Marco Polo descreve o uso do papel-moeda na China, hábito estranho aos europeus da época.


"(...) li faz o Grã-Cã ( imperador chinês da dinastia iniciada por Gêngis Khan ) cunhar moedas da seguinte forma: pegam na casca das árvores, geralmente das amoreiras dessas de que o bicho-da-seda devora as folhas, e com a pele que há entre a casca e o tronco fazem uma pasta, como a do papiro, de cor muito escura, quase preta.
Estes papéis ou tiras são cortados de vários tamanhos quase sempre compridos e estreitos; aos mais pequenos dá-se o valor de metade de um soldo; outros, maiores, valem um soldo, (...) Todos este papéis (...) têm o selo do Grã-Cã.
Manda fabricar tantos, que pode comprar facilmente todos os tesouros da Terra. Reparte-se por todas as províncias e reinos, e paga com eles as suas contas. Ninguém pode rejeitar esta moeda, sob pena de ser condenado à morte. (...)
Papel moeda 

Os comerciantes aceitam-na, com grande prazer, pois poderão, por sua vez, comprar aquilo que muito bem quiserem. O Grã-Cã paga com esse papel, mercadorias que valem uns 400.000 bizâncios ( moeda do Império Bizantino ).
E, uma vez por ano, publica-se um aviso, dizendo que todos os que possuem ouro, pedras finas e pratas os levem à Zeca ( Casa da Moeda ), para ali serem trocados por esse papel-moeda. Desta forma, o grande senhor acumula enormes tesouros em prata, ouro e pedras finas.
Quando estes papéis se rompem ou sujam ou ficam deteriorados, (...) são trocados por outros, com pequena desvalorização. (...)


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